Tecnologia e cultura da violência pautam debates no primeiro Encontro Estadual de Mulheres, em Porto Alegre
A importância das políticas de prevenção também foi destaque na primeira parte do evento
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O primeiro Encontro Estadual de Mulheres para o Mundo – Redes de Proteção da Mulher, realizado nesta sexta-feira (14/11) no auditório do Ministério Público, teve uma manhã marcada por debates sobre estratégias de prevenção, inteligência artificial (IA) e contribuições da ciência no enfrentamento à violência de gênero no Rio Grande do Sul.
A secretária da Mulher, Fábia Richter destacou a importância da articulação entre Estado, municípios e instituições parceiras para fortalecer a rede de proteção. “É preciso olhar para o feminicídio de modo articulado com as prefeituras. Nesse sentido, nossa atenção está voltada para as políticas de prevenção e para o modo como elas chegam aos municípios”, destacou a secretária.
Em seguida, a secretária-adjunta da Mulher, Viviane Viegas, falou sobre o desenvolvimento de programas para prevenir a violência doméstica por meio da IA. Essa realidade já existe em outros países, como a Espanha, e permite unificar dados de toda a rede de proteção, gerando notificações, o que facilita o monitoramento de casos. Com base nisso, a Secretaria da Mulher (SDM) pretende desenvolver um modelo para o Rio Grande do Sul.
“Por meio da tecnologia, estamos trabalhando junto à plataforma GurIA para que toda a rede de proteção se torne mais acessível, aumentando as possibilidades dos canais de denúncia. Também estamos elaborando um sistema de predição de risco na tentativa de mapear a violência no Estado”, explicou Viviane.
Estudo sobre o perfil do agressor
A docente e pesquisadora da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Dra. Joice Nielsson, apresentou o estudo intitulado “Sobre eles – Perfil, diagnóstico e propostas de intervenção”, que analisa o comportamento de homens autores de violência doméstica no sistema prisional gaúcho.
Joice detalhou que, durante o estudo, conversou por mais de 50 horas com homens presos por crimes de violência doméstica. Os dados, que ainda estão em fase de tratamento, apontam que esses sujeitos não compreendem que praticam crime, nem se sentem responsáveis por isso. “A culpabilização da vítima e a desresponsabilização do sujeito é algo muito frequente na sociedade e isso se refletiu na pesquisa”, disse.
Ainda conforme a pesquisadora, é comum o desconhecimento de formas de violência não física como tipo de violência de gênero. “Temos que ser claros ao salientar que ameaça, quebra de medida e outras precisam ser responsabilizadas”.
Joice também chamou atenção para a compreensão da dimensão cultural da violência e citou os chamados agressores de estimação. “Todos nós temos um aquele parente ou aquele colega de trabalho que faz piadinhas inconvenientes e tem falas machistas e misóginas. Precisamos agir sobre essa cultura”, frisou.
Por fim, a pesquisadora alertou que os homens precisam falar com outros homens sobre a violência contra a mulher e que a atuação nessa causa é tridimensionalmente, sendo necessário: punir o agressor, proteger a mulher e a criança e prevenir, por meio da educação de toda a sociedade. “Todos nós temos que ser responsáveis por mudar essa situação”, finalizou.
Texto: Ascom SDM
Edição: Secom