A Paz de Pedras Altas
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Germano Rigotto, Governador do Estado No último domingo contaram-se oitenta anos da pacificação política celebrada no castelo de Pedras Altas, local, ele mesmo, de confronto entre chimangos e maragatos. Foi muito sofrida, para os gaúchos, a virada do século XIX para o século XX. Tempo de revoluções sangrentas, de terríveis cisões, lideradas por homens extraordinários pela cultura e pelo destemor em combate. A Paz de Pedras Altas se afirma, então, como um marco na história política do Rio Grande, encerrando um ciclo e pondo em marcha mudanças que se estenderiam para o país inteiro com a Revolução de 30. Mais do que os combates do período, interessam, hoje, as lições da pacificação que aproximou ferrenhos adversários e democratizou a política estadual. Durante as negociações que antecederam a assinatura do Tratado de Pedras Altas, o ministro da guerra do presidente Bernardes, o também gaúcho Setembrino de Carvalho, encarecendo a necessidade da paz, definiu os combatentes - chimangos e maragatos - como perdulários da bravura. Certamente o foram. A história do período enche páginas de heroísmo, violência, e incompreensível ferocidade, mas não é menor a bravura requerida para transigir sobre os interesses em disputa e fixar as bases da pacificação. Foi o que aconteceu em Pedras Altas, encerrando um conflito no qual se envolveram diretamente alguns dos maiores nomes da nossa história republicana. Contudo, avança-se muito mais na paz do que na guerra, na concórdia do que na desavença. Por isso, empenhamo-nos em superar os conflitos de base ideológica instalados em nosso estado mediante a prática da negociação, do diálogo, da união de esforços com vistas ao bem comum. Se foi possível aos maragatos ensarilhar armas e se foi possível aos chimangos limitar a hegemonia de seu partido sobre a política estadual, certamente poderemos olhar para o Rio Grande do Sul como Assis Brasil via sua Granja de Pedras Altas - um criativo e pacífico ambiente de trabalho, produção, geração de tecnologia, renda, emprego e desenvolvimento cultural. Sejamos perdulários da harmonia e tenhamos a bravura de estender a mão para a conciliação. Especial - CORREIO DO POVO, 15 de dezembro de 2003.