Apenadas integram projeto de reciclagem de lixo eletrônico no RS
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O programa Sustentare, que padroniza o descarte adequado de equipamentos eletroeletrônicos dos órgãos públicos do Rio Grande do Sul, também é uma ferramenta de inclusão social para apenadas de Porto Alegre. Por participar do projeto inédito do governo do Estado, internas do Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier têm acesso à qualificação profissional e direito à remição de pena pelas horas dedicadas ao trabalho.
Lançado pelo governador José Ivo Sartori nesta quinta-feira (23), o programa foi criado para minimizar danos causados ao meio ambiente, potencializando a inclusão social e digital e contribuindo para educação ambiental nas escolas estaduais. A médio e longo prazo, ainda deve gerar economia aos cofres públicos, pois prevê a otimização do patrimônio material estadual. A gestão é da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) em parceria com a Companhia de Processamento de Dados (Procergs).
O Sustentare é um macroprocesso que vai desde a listagem inicial dos equipamentos de cada órgão por cadastro eletrônico - executada por 400 pessoas treinadas em cada empresa pública - até a destinação final de empresas recicladoras. São três trilhas de destinação dos objetos: doação, recondicionamento e reciclagem.
A última etapa do processo, que trata dos equipamentos inservíveis (os que não possuem mais condições de conserto), inclui o trabalho de desmonte das peças pelas apenadas do Madre Pelletier. A cada três dias trabalhados, significam um dia a menos no cárcere. "Além do valor financeiro que elas recebem pelo trabalho e que muitas mandam para suas casas para sustentar os filhos, é uma maneira de valorizar o trabalho da mulher aqui dentro e também lá fora", afirma a agente penitenciária da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), Marilia dos Santos Simões.
Para a secretária do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos, Maria Helena Sartori, o programa beneficia entes sociais como os jovens da Fase, que também recebem equipamentos para capacitação em informática. "O Sustentare tem todo um componente de potencial social, além da preservação do ambiente e da destinação adequada. Muitas entidades me procuram porque precisam de doações de computadores, então isso pode beneficiar essas pessoas com algo que está lá, parado, e que pode ter um melhor destino", destacou.
Apenadas recebem valorização por participar de programa ambiental. Sofia Wolff/Especial Palácio Piratini
Importância de ser útil
Uma das detentas colaboradoras conta como a oportunidade a faz se sentir útil dentro do sistema penitenciário, enquanto cumpre a reclusão por tráfico de drogas. "Aqui a gente se sente útil, trabalha pra manter o nosso sistema e tem ainda esperança de sair e poder continuar num emprego, voltar pra sociedade não sendo discriminada pelo fato de ser uma ex-presidiária", relata.
As peças separadas para reciclagem são recolhidas por uma empresa privada conveniada à Susepe, com sede em Alvorada, que armazena e dá o destino correto para cada tipo de material. Certos componentes que contêm metais preciosos precisam ainda ser enviados à Bélgica, pois não há tecnologia de reciclagem para este tipo de material no Brasil.
"Aqui a gente se sente útil", diz uma das detentas colaboradoras. Sofia Wolff/Especial Palácio Piratini
Entre os componentes, estão 12 tipos de elementos separados: ferro, alumínio, cobre, latão, parafusos de liga, placas separadas por cor, plásticos, chapas tipo raio X, silicone, pilhas, baterias e vidro. A projeção é de que com o andamento do programa sejam separados em torno de 70 elementos. Ao todo, já foram enviados para reciclagem mais de 50 toneladas de resíduos.
Para mais informações, conheça o site do programa.
Texto: Letícia Bonato
Edição: Gonçalo Valduga/Secom