Caranguejos e a ilusão dos extremos
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Por Artur Lemos
A política brasileira vive um momento em que, cada vez mais, os extremos parecem dominar a narrativa pública. De um lado, vozes inflamadas que acusam as instituições de serem inimigas do povo. Do outro, a recusa automática de qualquer iniciativa que não tenha nascido no campo ideológico de preferência.
O curioso é perceber como esses ataques, embora opostos em discurso, acabam se assemelhando em prática: negam conquistas, recusam o diálogo e transformam adversários em inimigos.
A metáfora dos caranguejos ajuda a ilustrar essa armadilha. O animal anda ora para a esquerda, ora para a direita, mas permanece preso ao mesmo espaço, incapaz de avançar.
Assim também é a sociedade quando se deixa capturar pelos extremos. Passos ruidosos, muita movimentação, mas nenhum progresso real. E, parafraseando Eduardo Leite, quem não reconhece o que já se avançou não é caminho seguro para novas conquistas.
O que se perde nesse embate é justamente o sentido de avanço. Sem centro, a democracia se desequilibra. Sem diálogo, a política se paralisa. Sem responsabilidade, a agenda coletiva se transforma em palco de disputas estéreis. E aqui cabe uma ironia: enquanto se perde tempo com ataques em cada detalhe de um governo, gasta-se energia que poderia estar voltada a soluções reais.
No fundo, esse é o objetivo de quem age assim: imobilizar, para justificar sempre uma bandeira do “se fosse investido lá e não cá”, como se o jogo fosse apenas de soma zero.
É preciso recuperar o valor do centro. E aqui centro não significa omissão ou falta de posição. Ao contrário: exige coragem. É a disposição de reconhecer méritos independentemente da origem, de construir consensos mínimos em nome do bem comum, de oferecer estabilidade em meio ao barulho. O centro é o espaço da responsabilidade, onde se protege a democracia e se pavimenta o caminho de conquistas duradouras.
Enquanto os extremos insistirem em repetir o destino dos caranguejos —andando de lado, sem rumo e sem horizonte — caberá ao centro afirmar que só existe futuro quando se escolhe a direção do avanço. E essa direção não se encontra na intolerância de esquerda ou de direita, mas no compromisso de conduzir a sociedade para frente.
Secretário-chefe da Casa Civil