Carta de Conjuntura da FEE destaca indústria, mobilidade e manifestações de rua
Publicação:

As dificuldades da indústria no Brasil, a proposta de pedágio urbano como alternativa para o problema da mobilidade nas grandes cidades, e as manifestações recentes ocorridas no país foram destaques da Carta de Conjuntura da Fundação de Economia e Estatística (FEE), divulgada nesta terça-feira (13), em Porto Alegre.
Segundo análise do economista César Conceição, sobre o desempenho da indústria no Brasil, ocorreu um avanço de 1,9% em junho, após recuo de 1,8% em maio, na comparação como mês anterior, acumulando expansão de 1,9 no ano.
Para o economista, a dificuldade de crescimento da indústria, em especial a de transformação, é marcante na questão do desenvolvimento econômico e social do Brasil. O economista ressalta ainda, que a compreensão desse processo, na atualidade, deve ser inserida num contexto de longo prazo, a partir da análise da evolução da estrutura industrial nas última décadas. César Conceição aponta duas fases nitidamente distintas, cuja ruptura foi verificada no início da década de 80.
Na primeira fase (1947-80), a implantação da estrutura produtiva, que caracteriza a atual economia brasileira. Como elemento central, a implantação de grandes projetos de políticas públicas, visando à construção do parque industrial para atender o mercado interno em substituição às importações. A estratégia estimulou as decisões de investimentos empresariais, assegurando um ambiente de consistente elevado crescimento econômico (média de 7,5% acumulado ano).
A segunda fase (1980-2013) da indústria no Brasil caracteriza-se pela ausência de uma estratégia de desenvolvimento. Segundo o economista, a implantação de novos projetos orientados pelo Estado, deixa de ser o eixo central do crescimento. Nesse contexto, a economia ingressou em uma trajetória de baixo crescimento durante todo o segundo período (media de 2,5% acumulado ano), e registrou uma queda da participação da indústria de transformação no valor adicionado total da economia de 16,9% em 2002, para 13,3% em 2012.
A análise diz que, apesar de períodos de forte recuperação, é evidente que os movimentos não se sustentam no longo prazo. César Conceição conclui ainda, que a retomada do crescimento e da participação da indústria de transformação na economia, requer uma estratégia de longo prazo que redefina a inserção global e assegure o potencial de novos desenvolvimentos, expandindo a produtividade através de mudança estrutural com inovações.
Pedágio
A análise sobre o pedágio urbano sintetiza a demanda de tráfego excedente à capacidade instalada no sistema viário, ocasionando congestionamentos. Segundo o economista Ricardo Brinco, para resolver o espaço escasso, tem-se privilegiado as obras de engenharia viária, de insuficiência comprovada , mas que dão sustentabilidade à expansão das viagens motorizadas. Para o economista, a ideia é interferir no preço de uso das vias em áreas densamente povoadas. Ricardo Brinco cita vários exemplos internacionais de pedágios urbanos com sucesso, sendo o de Cingapura como o decano de todos os sistemas de controle automáticos e de cobrança.
Manifestações
Para o sociólogo e pesquisador, Carlos Winckler as jornadas de junho sinalizam a retomada de movimentos massivos, que reivindicam menor tarifa para o transporte público e um conjunto de interesses difusos. Organizados em redes sociais e somando-se a outras lutas, pesquisas realizadas em outros Estados mostram a participação majoritária de jovens entre 17 e 24 anos, em parte filhos da classe média mais tradicional e, principalmente, de novos trabalhadores que ascenderam socialmente nos últimos anos.
Segundo o sociólogo, o epicentro das manifestações transbordou, por volta do dia 20 de junho, com mais de 1,5 milhão de participantes em todo país, entrando em declínio no final do mês. Já as centrais sindicais se incorporaram, mesmo que em menor expressão, culminando com o Dia Nacional de Lutas, em 11 de julho, com paralisação parcial no país.
Na análise, Winckler as manifestações são o quarto movimento de politização em massa nos últimos 30 anos, caso se considere as greves do ABC ao final dos anos 70, a Campanha das Diretas e o Impeachment de Collor, em 1992. Constata ainda, que a geração que participou das jornadas aprofunda seu aprendizado republicano em um contexto não muito promissor, dado os bloqueios conservadores de longa data.
Texto: Regina Farina
Foto: Laura Guerra/Especial Palácio Piratini
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305