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Necessidade e foco impulsionaram tecnologia em Israel

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Segurança alimentar e fornecimento de água são temas de projetos que o grupo conheceu no país - Foto: Alexandre Elmi / Secom

Um país menor do que o Estado de Sergipe que se transformou em potência tecnológica a partir de um combustível bem simples: a necessidade. No segundo dia de visitas a Israel, os integrantes da missão governamental e empresarial do Rio Grande do Sul conheceram como o país estabeleceu uma lógica de prioridades e conectou desenvolvimento de tecnologias à criação de novos negócios.

A primeira agenda dessa segunda-feira (18/11) foi no Ministério das Relações Exteriores, em Jerusalém. O grupo foi recebido por Ditza Froim, diretora de relações de Israel com África, América Latina e Caribe da Divisão de Economia do ministério. Ela sinalizou áreas de interesse em que Israel se tornou referência mundial. A primeira é segurança alimentar, sobretudo com o apoio de startups dedicadas à agricultura, área em que o Rio Grande Sul também é modelo e tem afinidade.

A segunda é o fornecimento de água. Israel investe tanto em dessalinização para garantir o abastecimento quanto na formação de uma mentalidade de valorização da substância. Embora a oferta de água no Brasil não seja um problema estratégico, o país pode aprender com a forma como os israelenses tratam o insumo. “Desde o jardim de infância, dizemos que se deve pagar pela água, porque água é vida”, explicou Ditza.

Outras possibilidades apontadas pela diplomata foram a de tecnologia aplicada à saúde e a de educação e inovação, na qual o país procurou vencer dois desafios: criar um ecossistema sustentável de apoio e incentivar a conexão com o universo de negócios para as startups. “E a escolha que fizemos para colocar todas as pontas para trabalhar juntas foi até simples: como não temos recursos naturais, ou tínhamos de importar tudo ou produzir tudo aqui, então escolhemos a tecnologia”, disse.

A mentalidade empreendedora que movimenta Israel, conforme Ditza, está ancorada em três elementos. O primeiro deles é acreditar na força do mercado. O segundo, reduzir os riscos para que as ideias possam ser aceleradas. E por fim, algo que pode se tornar promissor ao RS no futuro: o estabelecimento de parcerias internacionais. “Se um empreendedor errar, para nós isso não é um problema, desde que ele saiba por que errou e tente outra vez”, garantiu.

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Comitiva teve encontro com o diplomata Rafael Singer no prédio do Ministério de Relações Internacionais - Foto: Alexandre Elmi / Secom

Ainda no prédio do Ministério de Relações Internacionais, o grupo ouviu do diplomata Rafael Singer, que trabalhou no Brasil entre 2005 e 2010, que a visita do Rio Grande do Sul era estratégica em função do contexto atual da relação diplomática. “Também é muito importante para Israel. O Brasil é muito mais do que futebol e carnaval, é um poder em todas as áreas”, destacou Singer.

O diplomata afirmou que as relações entre Brasil e Israel vão entrar em uma nova fase, com a inauguração, ainda em novembro, de um escritório da Agência Brasileira de Promoção da Exportação (Apex) em Jerusalém, dedicado a promover negócios entre os dois países. Singer revelou o desejo de ampliar as conexões comerciais com o Mercosul. “Houve uma mudança nítida de postura do Brasil em relação a Israel”, comemorou Singer, referindo-se ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Ciberforça 

Uma das linhas mais robustas de investimento de Israel é a cibersegurança. “Israel decidiu ser uma ciberforça do mundo”, afirmou Singer. O epicentro atual do esforço israelense para desenvolver proteção digital – algo que se encaixa na tradição de preocupação com defesa no país – ocorre em Beersheva, no deserto de Negev. Ali, Exército, empresas e a Universidade de Ben Gurion interagem em um ambiente focado na descoberta de soluções para um mercado que movimentou R$ 225 bilhões no mundo em 2018, dos quais 10% são produzidos em Israel.

Como promover a interconexão entre o ambiente da pesquisa científica e o mundo dos negócios foi o foco da segunda agenda do dia, na Yissum Technology Transfer, ligada à Universidade Hebraica de Jerusalém. Trata-se de uma companhia dedicada a apoiar o desenvolvimento de inventos científicos até que eles se transformem em empresas capazes de conquistar mercados.

Leah Geffen, diretora de Relações Públicas e Comunicação da Yissum, ressaltou o compromisso da instituição com o risco inerente a toda atividade baseada na invenção. “Aqui temos uma atitude positiva diante do risco de empreender. Se a sua startup falha, o governo não a pune. Se obtém sucesso, o governo compartilha”, explicou Leah. Esse tipo de comportamento alavanca os resultados da pesquisa na Hebraica de Jerusalém. São 10.750 patentes registradas ao longo de 55 anos de investimento em tecnologia.

Alguns inventos obtiveram resultados expressivos de mercado, como o cultivo econômico do tomate cereja e os remédios Doxil (para o tratamento de câncer) e Exelon (Parkinson e Alzheimer). Um destaque recente de uma ideia que nasceu no ambiente fértil estimulado pela Yissum foi a venda da Mobileye, startup focada em sistemas de automação para transportes, para a Intel. O valor da operação: US$ 15,3 bilhões. Leah não revelou quanto da operação ficou nos cofres da Yissum, mas o modelo para financiamento de novas pesquisas passa justamente pela sociedade entre a companhia e as empresas que desenvolvem os produtos.

Vigilância com lentes e dados 

O segundo dia da passagem por Israel terminou com uma visita à Elbit Systems, em Rehovot. Oded Ben-David, vice-presidente de Tecnologia da empresa, apresentou como alguns sistemas de vigilância eletrônica e análise de dados são aprimorados a partir de lentes e sensores combinados, cada vez mais precisos e com melhor definição. Um dos produtos apresentados, o Supervis, possibilita a observação telescópica com um ângulo de 90°, ao qual é aplicada uma camada de análise de dados, que torna a captura de imagens mais inteligente para a tomada de decisão.

Conforme Ben-David, a base do produto é a tecnologia SWIR, um infravermelho de ondas curtas capaz de fazer uma leitura mais nítida, por distâncias maiores e mesmo em condições atmosféricas adversas. “Temos um foco bem definido, o de atender necessidades específicas. No caso do Supervis, foi uma encomenda para observar as colinas de Golan e a Faixa de Gaza”, disse, mas o produto agora está sendo comercializado.

Outro projeto da Elbit Systems apresentado à comitiva tem uma parte desenvolvida no Rio Grande do Sul. A gaúcha AEL fornece um componente do sistema Júpiter de monitoramento de imagens a partir do espaço, cuja aplicação pode ajudar a promover melhorias no combate à poluição e no desenvolvimento da agricultura.

Ao comentar os contatos do dia, o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís Lamb, defendeu uma mudança de mentalidade que absorva as lições oferecidas por Israel: “Temos que aprender a mudar a forma como planejamos o desenvolvimento, em função da forma como funciona a nova economia”, disse. Para Lamb, as apostas do Estado precisam entrar em sintonia com as áreas estratégicas escolhidas por Israel.

Além de integrantes do governo do Estado e empresários, participam das agendas por Israel, Estônia e Suécia representantes da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), da Universidade de Passo Fundo (UPF), da Imed, da Fábrica do Futuro, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação – Regional RS (Assespro-RS).

Texto: Alexandre Elmi/Secom
Edição: Patrícia Specht/Secom

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