Há figuras cuja estatura se impõe não apenas pela grandeza de seus atos, como por sua personalidade notável. É esse o caso de José Antônio Flores da Cunha, que governou o Rio Grande do Sul entre 28 de novembro de 1930 e 17 de outubro de 1937. Esse extraordinário rio-grandense, que nos deixou há precisamente 50 anos, e que tive a oportunidade de reverenciar há poucas semanas inaugurando seu busto no Palácio Piratini e no município que leva seu nome, foi um vulto portentoso, que não apenas revolucionou a administração gaúcha, mas se tornou um símbolo de tribuno e de estadista para todo o Brasil.

Advogado, delegado de Polícia da Capital Federal, deputado estadual, deputado federal, salientou-se ainda como o general que, nos campos de batalha, revelou uma coragem indomável, respeitada por seus próprios adversários. Como chefe do Executivo rio-grandense, dele se pode afirmar que construiu as bases do Estado moderno.

Criou as Secretarias da Educação e da Agricultura, lançou as bases da universidade estadual, instituiu o Tribunal de Contas e a obrigatoriedade do concurso público, deu forma ao Instituto de Previdência do Estado, desenvolveu o sistema rodoviário e ferroviário, dentre outras realizações maiúsculas para a História. Foi sua uma outra obra que aproxima o seu do atual governo: restabeleceu o equilíbrio das finanças públicas. Dele foi uma máxima que sigo com admiração e perseverança: nesta casa não se gasta mais do que se arrecada. E ainda foi além nesse objetivo que aproxima a administração de ontem à de hoje: conferiu prioridade à irrigação, para combater um flagelo que seguidamente castiga o Rio Grande: as secas.

Além disso, firmou-se como uma liderança federal, afirmando-se como um tribuno de efetiva ressonância nacional. É esse o vulto que foi recentemente retratado em obra magistral do jornalista Lauro Schirmer, que infelizmente nos deixou. É essa a figura que, a par de personalidades como Osvaldo Aranha e Getúlio Vargas, fundou os alicerces do Brasil moderno e do Rio Grande do Sul revigorado e fortalecido de nossos dias.

Merece por isso todas as homenagens dos rio-grandenses e dos brasileiros.

(*) Governadora do Estado do Rio Grande do Sul