É hora de despolarizar o Brasil
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O Brasil passa, mais uma vez, por um momento de deterioração institucional. Já tivemos um ex-presidente preso. Hoje, outro cumpre medidas cautelares com tornozeleira eletrônica. Não há como olhar para essa realidade sem indignação. O que deveria ser encarado como motivo de constrangimento democrático e sinal de degradação da nossa vida pública acabou reduzido a espetáculo. Uma torcida vibrou no passado.
A outra vibra agora. Enquanto os polos se agridem e se retroalimentam, o país continua paralisado, incapaz de resolver os problemas reais da população.
Esse ambiente não é inevitável. Ele é construído, dia após dia, pela lógica binária que tomou conta do debate público e contaminou a política. A polarização transforma adversários em inimigos a serem exterminados, esvazia o diálogo e empobrece a construção democrática. O Brasil deixou de debater projetos de país e passou a assistir a uma guerra permanente de slogans, rótulos e narrativas que nada têm a ver com as necessidades concretas de quem trabalha, empreende e tenta viver com dignidade em meio a tantas dificuldades.
Mas a ficha começou a cair. A tragédia das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil é um desses sinais. Medidas duras, que afetam empresas e empregos no Brasil, surgem num contexto internacional radicalizado, mas também encontram terreno fértil num ambiente interno que negligencia a diplomacia e prioriza a retórica. Enquanto um campo político se orgulha de ter contribuído para a adoção das tarifas, o outro tenta capitalizar eleitoralmente a crise que elas provocam. E quem paga essa conta, como sempre, são os trabalhadores e os setores produtivos.
Diante disso, reafirmo o que sempre disse: não aceitarei a chantagem daqueles que querem impor a polarização como destino inevitável do país. A ponderação não é ausência de posição. É, hoje, um gesto de coragem. É sustentar convicções sem se render ao conforto das torcidas. É ter temperança e moderação. Firmeza sem gritar, clareza sem agredir e disposição para ouvir, mesmo quando se é atacado.
O Brasil precisa de mais do que sobrevivência institucional. Precisamos reconstruir a confiança na política com base em entregas e abrir espaço para uma economia inovadora, sustentável e conectada ao mundo. Isso exige das lideranças responsabilidade e disposição para construir, não para destruir. É exatamente isso que está em jogo. Não se trata apenas de uma disputa ideológica. Trata-se da capacidade de reerguer o país a partir de consensos mínimos como a responsabilidade fiscal e a promoção da justiça social. Mas nada disso será possível enquanto o debate seguir aprisionado aos extremos.
O movimento antipolarização não é um apelo à neutralidade. É uma convocação à lucidez. É afirmar que o Brasil não pertence a um partido, a um ex-presidente ou a uma bolha ideológica. O Brasil é maior do que seus polos. E é justamente por isso que merece uma política à sua altura, capaz de unir em vez de dividir.
A hora de reconstruir o futuro é agora. E não será com mais muros que conseguiremos fazer isso. Será com pontes, com diálogo e com a ousadia de quem escolhe o caminho da ponderação mesmo quando tudo parece empurrar na direção contrária.
Governador do Estado do Rio Grande do Sul