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Equoterapia é utilizada por pacientes psiquiátricos da rede estadual

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Alegria e tranqüilidade são os sentimentos que uma terapia diferente e com perspectiva de excelentes resultados tem proporcionado a pacientes psiquiátricos da rede estadual, através de uma parceria entre a Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS) e a Sociedade Hípica Porto-alegrense. Desde o início de junho, a equoterapia é utilizada em sessões semanais por uma equipe interdisciplinar, com o objetivo de potencializar as habilidades e reduzir as limitações dos praticantes. Pioneira no Rio Grande do Sul, a atividade envolve cerca de 30 pacientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro, do Hospital Colônia Itapuã e usuários-moradores dos Serviços Residenciais Terapêuticos Morada São Pedro e Morada Viamão. Segundo a diretora da Divisão de Atenção a Usuários-Moradores da SES/RS, psicóloga Vera Sebben, a iniciativa está de acordo com a política da reforma psiquiátrica e é mais um instrumento para possibilitar a reinserção dessas pessoas na sociedade. A equoterapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1997 como método científico e pode ser exercida por qualquer um, independente da faixa etária e patologia. A prática emprega técnicas de equitação e atividades eqüestres para propocionar ao praticante benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais. A psicóloga Sílvia Scheffer, coordenadora do programa na Sociedade Hípica, explica que a atividade exige a participação do corpo inteiro, contribuindo para o desenvolvimento do tônus e da força muscular, assim como o relaxamento e conscientização do próprio corpo. Trinta minutos de montaria estimulam por volta de 3.200 músculos, mesmo que involuntariamente, diz. Além disso, Sílvia afirma que o cavalo é um instrumento de relação social, pois possibilita a experimentação de diversas sensações motoras e sensoriais. O contato é muito rico, já que envolve calor, cheiro e texturas, entre outras nuances características do animal. As mãos em contato com as rédeas e sons como vozes e passos, por exemplo, fazem parte desse processo, contribuindo para aprimorar os resultados. A psicóloga aponta ainda a relação de afeto que se desenvolve entre cavalo e cavaleiro, devido à proximidade e natureza de ambos. Conforme Sílvia, uma pesquisa aponta que após 20 minutos de cavalgada os batimentos cardíacos do animal e do homem ficam bastante próximos, em um sinal da comunhão entre um e outro. A diretora da Divisão de Atenção a Usuários-Moradores conta que os participantes foram selecionados, a princípio, por manifestarem interesse (alguns são de origem rural). Participam, entre outros, pacientes com problemas de locomoção, de fala e visuais. Eles são levados até a Hípica em veículos fornecidos pelo Estado e são auxiliados por sete acompanhantes, funcionários do quadro da SES. Em mais um esforço para que se acostumem ao cotidiano normal de qualquer indivíduo, alguns praticantes já utilizaram ônibus coletivos de Porto Alegre para chegar ao centro de equitação. É uma forma de demonstrar que os pacientes podem sim responder de uma forma diferente da que as pessoas, no senso comum, pensam, assegura Vera. A equipe de equoterapia da Hípica é constituída por 15 profissionais, com formação em Psicologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia ou Fonoaudiologia, e estudantes dessas áreas. Conforme Sílvia, os encontros semanais seguem uma rotina mais ou menos definida. Preliminarmente, é realizado alongamento e uma atividade de ambientação com os cavalos. Nesta última, é apresentado como é o manejo do animal, qual a maneira correta de afagá-lo, o que ele come, onde dorme. Os praticantes escovam os cavalos, os abraçam, dão cenouras, se aproximando de seus companheiros de montaria. Dessa forma, vão perdendo o medo para que possam estar tranqüilos na hora de montar, explica. A psicóloga defende que a experiência de cavalgar um animal dócil, mas de porte avantajado, leva o praticante a ter sensações de liberdade, independência e capacidade, fortalecendo a autoconfiança e auto-estima. Montar, conduzir e interagir com um animal de 400 quilos é um potencializador incrível para o ser humano, sustenta. Os resultados são visíveis no rosto de cada um dos praticantes. A expressão deles ao subir no cavalo é impressionante, afirma. Segundo ela, enquanto no início alguns eram mais fechados, introspectivos, hoje eles se sentem muito à vontade. Estão bem menos agitados e desenvolveram uma relação de afeto com o grupo de profissionais e participantes de outros lugares. Uns já vem para cá pilchados e até trazem presentes para nós. Vera também comemora os resultados. A diretora afirma que a equoterapia é mais uma oportunidade de inserção dos usuários-moradores e pacientes na sociedade, indo no movimento contrário da idéia de que não há vida além da doença. A atividade é, também, um modo de educar as pessoas a lidar com o diferente, assegura, acrescentando que o paciente psiquiátrico pode viver fora dos hospitais e continuar recebendo assistência constante para tratar de sua saúde mental. Vera conta que alguns praticantes ainda não montam nos cavalos, mas participam das atividades de ambientação e de outras, como caminhadas pelo amplo terreno da Hípica, estreitando o contato com a natureza, passeando entre as árvores, colhendo frutas, sempre assistidos por algum funcionário da Hípica ou acompanhante da SES. Ela afirma que a parceria não tem prazo para ser encerrada, pois a equoterapia não tem início, meio ou fim. É quase um esporte, mas tem um fundo terapêutico bem definido. Nada impede, no entanto, que no futuro o praticante se torne um cavaleiro e a encare como uma prática esportiva. Os encontros acontecem todas as quartas-feiras, das 14h às 16h30min. Vera afirma que o objetivo agora é ampliar o programa também para o turno da manhã, possibilitando a participação de mais 30 pessoas, inclusive de cadeirantes.
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