Espetáculo no Teatro de Arena lembra músicas vetadas pela Censura Federal
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O Teatro de Arena, vinculado à Secretaria da Cultura, volta a apresentar neste domingo (20), às 20 horas, o espetáculo musical Cale-se - As Músicas Censuradas pela Ditadura Militar. O show retrata as composições musicais brasileiras parcial ou totalmente proibidas pela censura na época do regime militar, entre 1964 e 1985.
Resultado de uma pesquisa à exaustão, feita por Douglas Carvalho, o espetáculo teve como base inicial os textos de teatro guardados pelo Teatro de Arena, no Espaço Sônia Duro, vetados na íntegra ou não, pela Censura Federal. O órgão funcionou em Porto Alegre, na avenida Presidente Roosevelt, no bairro Navegantes, como um departamento da Policia Federal, tendo como seus chefes João Bispo da Hora e Roque Chedid.
Depois de analisar as peças teatrais preservadas no Teatro de Arena, Douglas partiu para uma prospecção junto ao meio musical, cujo levantamento é visto neste espetáculo. Autores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Taiguara, Toquinho, Odair José, Torquato Neto, Maurício Tapajós e Zé Kéti foram alguns dos inúmeros artistas que viram suas criações musicais mutiladas, na íntegra ou em partes, pelo crivo dos censores.
Apesar de Você, de Chico Buarque, Caminhando ou Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, Cálice, de Chico e Gilberto Gil, É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, Acorda Amor, de Leonel Paiva e Julinho da Adelaide, Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, Que as Crianças Cantem Livres, de Taiguara, Vai Passar, de Chico Buarque e Francis Hime, e Opinião, de Zé Kéti, foram algumas das músicas proibidas. Julinho da Adelaide foi o pseudônimo a que Chico Buarque recorreu para burlar os censores, pois criações com seu nome nunca eram liberadas.
A História da Censura Federal de 1964 a 1985 exibe curiosidades como a de ser proibida uma música de Waldick Soriano por ter o título de Tortura de Amor, no auge da repressão. Como Eu Te Quero, de Paula Toller e Leoni, foi vetada por infringir, na visão dos censores, os códigos morais da época, ao constar na letra uma expressão: Tire essa bermuda.
Adoniram Barbosa traduzia em suas letras a linguagem das ruas de São Paulo, com um dialeto caipira. Recebeu cortes como imposições à correção gramatical de seus versos. O compositor paulistano não chegou a usar suas músicas para protestar contra a ditadura, mas era comum seus colegas buscarem esse artifício. Transformaram-se, assim, em referências históricas da MPB. Muitos estudiosos da cultura brasileira apontam os anos de maior repressão política como dos mais férteis em criatividade musical. Converteram-se num desafio pessoal e ideológico que cada autor encarava para superar o cerceamento a seu trabalho.