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Estado promove discussão sobre reforma psiquiátrica

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O governo do Estado e a Secretaria de Saúde trazem ao Rio Grande do Sul a psiquiatra italiana Giovanna del Giudice, uma das pioneiras na implantação da lei da reforma psiquiátrica na Itália. A programação iniciou-se na manhã desta segunda-feira (23), com a palestra O contexto histórico, social e a política da Reforma Psiquiátrica Italiana, com plenário lotado no auditório Paulo Freire do Centro Administrativo. Presentes, representantes de hospitais, psiquiatras, delegados de saúde, profissionais de outras áreas da rede pública de saúde e interessados. A médica italiana permanece no Estado até sexta-feira (27), realizando visitas, palestras e conversas com trabalhadores da área. Na abertura, o secretário da Saúde, Osmar Terra, saudou a visitante dizendo que ela vai contribuir na construção da política de saúde mental no Rio Grande do Sul. “Este é um processo complexo, num sistema de saúde avançado e financiado como é o brasileiro, embora ainda muito longe de atingir o atendimento adequado. O Rio Grande do Sul tem trabalhado para que esse atendimento avance. Temos 128 Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs) que atendem 30 mil pessoas”, relatou o secretário. Ao falar dos avanços, Terra lembrou da década de 1970 em que o Hospital São Pedro atendia 5 mil internos e era a única alternativa de atendimento a pessoas portadoras de transtornos mentais vindas de todo Estado . “Hoje são 500 moradores e mais 130 leitos para tratamento em fase aguda da doença,” disse. O secretário desatcou que no mesmo período ocorreu o avanço das drogas ilícitas, contribuindo para aumentar o número de casos agudos de internações e ampliar os leitos nos hospitais gerais. “Um dos desafios agora é duplicar o número de CAPS, impactando e reduzindo as internações hospitalares e aumentando a qualidade de vida das pessoas, além de criar CAPS AD, os centros para usuários de álcool e drogas”, explicou. O secretário Osmar Terra citou outras ações que contribuirão para melhorar a política de saúde mental, como as Equipes de Saúde da Família, o atendimento de gestantes e crianças através do programa Primeira Infância Melhor- PIM, entre outros. A diretora da Escola de Saúde Pública, Sandra Vial, que coordena a programação a ser desenvolvida até sexta-feira em Porto Alegre, citou outros desafios no Estado, tais como qualificar os leitos do Hospital São Pedro, melhorar o atendimento, criar leitos ou incentivar leitos para portadores de doenças mentais em hospitais gerais. Experiência italiana A palestrante italiana iniciou sua fala dizendo-se feliz por estar aqui, pois conviveu muito próxima dos brasileiros em Trieste, cidade onde vive. Ela ratificou a afirmação do secretário Osmar Terra ao dizer que a questão da saúde mental é muito complexa e fez um relato histórico da saúde mental nos últimos 40 anos na Itália. Giovanna del Giudice contou que a Itália começou a discussão sobre a desconstrução do manicômio em 1960. Os anos seguintes foram de muito trabalho pela humanização, com a retirada de grades dos hospitais psiquiátricos, abolidas formas de terapia de choque, oportunizado aos pacientes falar, valorizando as relações entre equipes e pacientes, definindo pelo fechando dos hospitais. Mais tarde, em 1978, foi criada a lei do fim do manicômio e a entrada dos leitos em hospitais gerais, envolvendo toda a população. Dois anos depois, em 1980, foram fechados todos os manicômios e criada uma rede de serviços. “Os pacientes se tornaram, enfim, cidadãos”, disse a psiquiatra. Segundo ela, hoje a Itália é uma nação sem manicômios e a rede de serviços tem base na própria sociedade que protege e trabalha pela inserção do paciente na sociedade e no trabalho. “O paciente não é mais alguém que possa simplesmente ser tratado, mas alguém que contribuiu no seu tratamento. Desde 1998 não existe em nenhum lugar da Itália com manicômios. As pessoas são atendidas em Centros de Saúde Mental, similar aos CAPs brasileiros. Na Itália trabalhamos diretamente na casa das pessoas, com participação direta de familiares e a comunidade. A saúde mental se tornou um empreendimento coletivo, dizendo respeito a toda comunidade,” enfatizou ela. A Itália tem 180 associações de famílias unidas em uma federação que apóia a reforma e trabalha pela melhoria do serviço. Leitos no RS Segundo a coordenadora de Saúde Mental do Estado, Patrícia Domingues, o Rio Grande do Sul tem 940 leitos psiquiátricos, dos quais 130 no Hospital São Pedro, além de 687 leitos em hospitais gerais e mais 60 leitos/dia, sendo 30 deles no Hospital Espírita de Porto Alegre e 30 no Hospital Psiquiátrico de Rio Grande, totalizando 1.687 leitos.
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