Estudantes do Júlio de Castilhos relembram a Marcha da Legalidade
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Fundado em 23 de março de 1900 com o nome de Ginásio do Rio Grande do Sul, o Colégio Júlio de Castilhos é a instituição de ensino mais tradicional do Estado. Lá surgiu o primeiro Movimento Tradicionalista Gaúcho e muitas personalidades, do estado e do país, passaram por seus bancos escolares, como o próprio Leonel Brizola. E foi do Julinho que saiu, no dia 25 de agosto, a Marcha da Legalidade, com mais de 500 estudantes em direção ao centro de Porto Alegre, para ouvir o então prefeito da cidade, Loureiro da Silva e o governador da época, Leonel Brizola.
Habituados a serem protagonistas de mobilizações, os alunos marcharam em defesa da Constituição e para assegurar a posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros. Os alunos estavam no centro de todas as manifestações políticas, como em agosto de 1961, quando foram para as ruas defender a ordem constitucional no país, lembra o advogado, Ricardo Goulart Jahn, na época com 16 anos e cursando o 2º clássico, o que hoje corresponde ao ensino médio. Ele recorda que quando participou da passeata pela Legalidade, respirava-se política no Julinho.
Na tarde do dia 25 de agosto de 1961, dia da Marcha da Legalidade, Jahn conta que grande parte dos alunos já tinha ouvido no rádio a notícia da renúncia do presidente Jânio Quadros, e que na hora ninguém entendeu o motivo, remetendo a idéia de que seria um golpe contra a democracia. Os alunos então se reuniram na escola e decidiram agir, realizando a passeata. Eu calculo que éramos cerca de 800 estudantes, diz ele. Aqueles que estavam mais ativos na atividade política organizaram a passeata, indo até as salas de aula e pedindo que os alunos fossem até a frente da escola, e foi o ex-presidente do grêmio estudantil, Natalio Ferrari, que alertou a todos sobre o golpe.
O advogado segue lembrando daquele dia. Dirigimos-nos até a prefeitura, onde estava o prefeito Loureiro da Silva, com a idéia de que naquele momento ele assumisse alguma liderança, mas lá ficamos sabendo que a grande mobilização estava acontecendo em frente ao Palácio Piratini. No caminho, Jahn diz que a passeata foi engrossando até chegar ao Palácio, onde manifestaram a Leonel Brizola que se estavam tramando contra a democracia o Rio Grande do Sul deveria resistir por todos os meios. Tenho convicção que os alunos têm papel fundamental na campanha pela Legalidade, porque junto com outras pessoas demos voz ao movimento.
Outro ex-estudante do Julinho que recorda da Marcha é Marciano Renan Lisboa da Silva, aluno do colégio no período de 1959 até 1967. Na verdade, eu peguei a passeata no meio do caminho, pois quando fiquei sabendo eles já estavam saindo da prefeitura e indo para o Palácio Piratini. Procurador de Justiça aposentado, Marciano, na época com 13 anos, diz que lembrar os 50 anos da Legalidade é uma motivação permanente. Naquela época, se buscava a legalidade, o justo, o que é correto, honesto e moral, acho que isso não mudou daquela época pra hoje e nem deve mudar.
O pai de Marciano tinha atividade política junto ao governador naquela época, e ele lembra-se de ouvir seus pais conversando sobre a questão do vice-presidente poder assumir ou não, já que o País até então vivia em democracia. Alguns dizem que aquela tentativa de impedir João Goulart de assumir já era o que aconteceu três anos depois com o golpe militar: já havia um movimento contrário às idéias políticas que João Goulart e Brizola tinham já em 1961.
A Legalidade foi um movimento liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para assegurar a posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961.
Texto: Daiane Roldão da Silva
Foto: Claudio Fachel
Edição: Redação Secom (51)3210-4305