Estudo revela riquezas da reserva indígena de Cacique Doble
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Um convênio firmado no dia 19 de abril deste ano, data em que se comemora o Dia do Índio, resultou em um completo diagnóstico sobre as terras indígenas de Ligeiro (município de Charrua) e Cacique Doble (em Cacique Doble), situadas na região Nordeste do Estado. O estudo foi realizado por profissionais das universidades Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Pontifícia Universidade Católica (PUC) e pelos habitantes das duas reservas, de forma que os índios participantes do projeto agora são agentes ambientais. Na reserva indígena de Cacique Doble, uma área com 4500 hectares, os resultados do estudo estão sendo apresentados em um seminário durante toda esta semana, envolvendo a comunidade de aproximadamente 750 índios Guarani e Kaingang. Em Ligeiro, o mesmo estudo foi apresentado em agosto. A secretária do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Neusa Azevedo, acompanhou na segunda-feira (23), o primeiro dia do seminário em Cacique Doble. Neusa salientou a importância de um projeto que levanta os dados sociais e ambientais da terra indígena com a participação dos seus habitantes. É gratificante ver a comunidade se reunir, discutir e participar da construção do seu futuro, decidir o que é importante para o povo Kaingang e para o povo Guarani, destacou, reforçando a contribuição do estudo para o resgate das tradições e para que seja traçado um plano de sustentabilidade para essas comunidades a partir deste passo. A coordenadora do Conselho Estadual dos Povos Indígenas, Teresinha Maglia, frisou que a comunidade deverá decidir quais as principais demandas para a reserva, a partir do diagnóstico. Os direitos dos primeiros habitantes do Estado devem ser garantidos e respeitados pela sociedade como um todo, enfatizou. Já os caciques Jackson Silveira, da nação Kaingang, e Joel Pereira, Guarani, sublinharam a importância de o Governo do Estado estar desenvolvendo ações voltadas para os povos indígenas. Para nós é uma satisfação muito grande poder contar com a ajuda do Estado e não ser mais um povo esquecido, declarou o cacique Silveira. Esta ação que desencadeou o estudo, é uma parceria das secretarias do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, da Coordenação e Planejamento e de outros órgãos públicos estaduais, com a participação do Ministério do Meio Ambiente, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Prefeitura de Cacique Doble. O custo do projeto foi de R$ 149,2 mil, sendo R$ 25 mil provenientes do Estado e R$ 124 mil do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Riscos e riquezas O desmatamento e a poluição dos rios que passam pela reserva é o principal problema ambiental da comunidade, no entender dos índios participantes do estudo. Prova disso é a diminuição dos peixes e dos animais silvestres como jaguatirica, gato do mato e a paca. Tratar a área indígena como local de preservação, não mais permitindo a entrada de caçadores de fora da área, por exemplo, diminuiria os riscos a que os índios hoje já estão expostos. Além disso, eles deverão reorientar os hábitos de caça entre a própria comunidade. A expansão da floresta também está entre as sugestões apresentadas a partir das conclusões do estudo. Se a questão ambiental preocupa, por outro lado a geologia da área mostra que a reserva de Cacique Doble é deslumbrante. E foram os índios, que se formaram geólogos da aldeia a partir da participação no estudo, os orientadores dos profissionais das duas universidades nesta busca pelo conhecimento geológico. O resultado foi a estruturação de uma litoteca (biblioteca de pedras) com o nome de cada uma das pedras da reserva. Além disso, os alunos, que têm idades entre 11 e 21 anos, fizeram mapas e desenhos revelando a geografia da reserva. Conhecendo melhor a terra, acaba-se conhecendo a cultura de quem mora nela, destacou o geólogo da Ufrgs, Rualdo Menegat, ao final da apresentação desta etapa do estudo.