Final da Copa tem torcida especial de descendentes de alemães e imigrantes argentinos no Estado
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A receptividade dos gaúchos foi tamanha que contagiou as seleções e seus torcedores que passaram pela Capital gaúcha durante a Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014. As duas seleções que decidem o Mundial no próximo domingo (13) venceram suas partidas no estádio Beira-Rio em Porto Alegre. Ainda pela primeira fase, no dia 25 de junho, a Argentina superou a Nigéria por 3 a 2. Cinco dias depois, pelas oitavas de final, a Alemanha derrotou a Argélia por 2 a 1 na prorrogação. Agora, a seleção que levantar a taça no domingo estará representando uma parcela da população gaúcha, sejam os descendentes de alemães, sejam os argentinos que moram no Rio Grande do Sul, duas numerosas comunidades do Estado.
A torcida pela vitória da Alemanha no domingo unirá os gaúchos que têm antepassados alemães na sua árvore genealógica. Conforme estudos da Câmara Brasil-Alemanha, 25% da população gaúcha é de origem germânica. Com características culturais muito fortes, tanto na arquitetura como nos costumes, Nova Petrópolis, município da Serra, é um exemplo dessa colonização.
Para o secretário municipal de Turismo, Daniel Camargo, “pelo menos 90% da população vai torcer para a Alemanha”. Por isso, quando a seleção entrar em campo, a torcida gaúcha estará mobilizada. Na Rua Coberta, um telão de alta definição de cinco metros de largura por três metros de altura transmitirá de forma gratuita o confronto contra a Argentina.
Entre os descentes germânicos, estará Paulo Boelter e quatro amigos alemães que fizeram da casa dele uma espécie de “QG” durante a Copa 2014 – conferiram as vitórias do país contra a Argélia em Porto Alegre e contra a França no Rio de Janeiro -, mas retornaram ao município. Antes da partida, Boelter e os amigos participarão de um almoço especial promovido pelo Grupo de Danças Folclóricas Círculo da Amizade, da qual Paulo faz parte, para cerca de 300 pessoas. Recebendo os visitantes há mais de duas semanas, ele afirma que eles têm gostado muito do Brasil. “Eles adoram o Brasil. Aqueles que vieram pela primeira vez estão encantados”, exalta Boelter.
Intercâmbio com a Alemanha
Com o objetivo principal de resgatar a herança cultural dos antepassados, além das aulas de danças, o Círculo da Amizade promove intercâmbio com alemães. Conforme Boelter, “pelo menos a cada dois meses tem alemão hospedado na minha casa”. Além disso, a cada dois ou três anos o grupo viaja para a Europa. Nesses contatos, Paulo Bolter percebeu que a continuidade da cultura germânica existe muito mais no Brasil do que na própria Alemanha. “A manifestação cultural existe aqui com a descendência”, afirma Boelter.
E é para manter e mostrar a força da tradição, a preservação cultural por meio da dança, gastronomia, música, competições germânicas e o cultivo da diversidade que, desde 1973, todos os anos, ocorre o Festival Internacional de Folclore. Na sua 42ª edição, este ano o evento acontece de 25 de julho a 10 de agosto. “Eles encontram aqui um pedacinho da Alemanha do passado. Uma Alemanha que não existe mais na própria Alemanha”, completa Paulo Boelter.
Semelhanças unem gaúchos e argentinos
Não é só a fronteira comum que aproxima o gaúcho brasileiro do argentino, mas também hábitos e culturas semelhantes. O mate amargo é uma delas, apesar de argentinos sustentarem que o deles possui um gosto ainda mais forte, a nossa cuia ser maior e feita de porongo, diferentemente da fruta da cuieira, mais usada pelos argentinos.
Foi essa aproximação que tornou a recepção aos hermanos um dos momentos mais marcantes da Copa 2014 no Rio Grande do Sul. Afinal, foram cerca de cem mil argentinos, conforme a Brigada Militar, que cobriram Porto Alegre de azul e branco com um único objetivo: festejar. Essa invasão portenha confirma a informação do Ministério do Turismo que destaca a Argentina como o maior emissor de turistas para o Brasil e para o Estado.
Quem já lembra com saudade desse dia é Eduardo Galeano, natural de Missiones, uma província no nordeste da Argentina, homônimo do escritor uruguaio. Proprietário de uma pousada nas cataratas do Iguaçu, no Paraná, ele abriu um estabelecimento para receber argentinos em Porto Alegre durante a Copa. “O momento vivido aqui na Copa foi espetacular. Quando foi o jogo contra a Nigéria me senti muito feliz porque Porto Alegre estava albiceleste”, celebra Galeano.
No Brasil desde 1990, Galeano ficou triste com a derrota brasileira para a Alemanha e acredita que os brasileiros não mereciam essa tristeza. “Não merecia o Brasil, o povo mais feliz do mundo. Foi uma tragédia. Eu estou triste!”. Além disso, ele admite ficar dividido em confrontos entre os dois países. “Se ganha o Brasil, eu fico triste pela Argentina, se ganha a Argentina, eu fico triste pelo Brasil. Fico com o coração partido!”, admite Galeano.
Neste domingo, a ideia é promover um churrasco para amigos conterrâneos e ir para a Fan Fest torcer para a albiceleste. Confiante, ele acredita na vitória “Estamos vindo bem, a seleção vem num embalo muito bom!”, ressalta ele.
Quem também acredita na seleção de seu país é Rodrigo Mario Ruiz. Vindo da capital Buenos Aires, Ruiz mora há 37 anosem Porto Alegre, onde casou e constituiu família. Para ele, não vai ser nada fácil superar os europeus. “Vai ser difícil. Os dois times vão entrar para ganhar com muita garra. Pode ser que ganhe a Argentina sim”, afirma. A preocupação é tanta que ele até brinca quando questionado a respeito de uma preparação especial para ver o jogo. “O telefone do serviço de ambulância!”, exclama.
Vivendo há tanto tempo no Rio Grande do Sul, Ruiz identifica mais semelhanças entre o povo do sul do Brasil com o país dele do que com outros Estados brasileiros. “O gaúcho tem mais semelhanças com o argentino do que com cariocas ou baianos”, afirma, destacando a obra “Martín Fierro”, como exemplo do que se estuda na escola com as mesmas tradições que no Rio Grande do Sul.
Seja pela aproximação com argentinos ou pela descendência alemã, a final da Copa do Mundo se encerrará com uma grande torcida gaúcha. A expectativa é saber quem será o vencedor.
Texto: Nathalia Ely
Foto: Camila Domingues
Edição: Redação Secom