Informe epidemiológico aponta cenário desafiador da tuberculose no Estado
A vacina BCG e a continuidade do tratamento estão entre as estratégias mais eficazes para quebrar o ciclo de transmissão
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A Secretaria da Saúde (SES) disponibilizou, em agosto, o Informe Epidemiológico do Rio Grande do Sul – Tuberculose 2025. O documento traz dados importantes sobre os índices de infecção e de cura da doença no Estado e reforça como as ações descentralizadas podem melhorar os números e a saúde da população. O documento é elaborado pelo Programa Estadual de Controle da Tuberculose (Pect-RS), pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) e pelo Hospital Sanatório Partenon.
A tuberculose é uma doença grave que pode iniciar de forma silenciosa. Causada pela bactéria conhecida popularmente como bacilo de Koch, é infecciosa e transmissível pelas vias aéreas, por meio da eliminação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com tuberculose ativa.
A doença é reconhecida como um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em conjunto com o Ministério da Saúde, estabelece que a meta recomendada de cura para casos novos é de 85%. Em 2023, a proporção de cura dos casos novos de tuberculose pulmonar no Estado foi de 52,5%. Já a taxa de interrupção do tratamento foi de 18,5%.
1ª CRS tem a maior incidência da doença no Estado
Com distribuição desigual nas regiões, a 1ª Coordenadoria Estadual de Saúde (CRS) apresenta a maior incidência de tuberculose do Rio Grande do Sul (64,5 casos para cada 100 mil habitantes), superando, inclusive, os índices nacional e estadual. A 14ª CRS apresenta a menor incidência (8,5 casos para cada 100 mil habitantes) e é a única que está em um patamar compatível com a meta de eliminação da tuberculose como problema de saúde pública (coeficientes menores do que dez casos para cada 100 mil habitantes).
Os municípios que possuem alta carga de tuberculose são aqueles que, nos últimos cinco anos, apresentaram em pelo menos um deles 100 casos novos. Essas cidades respondem por 58% da carga da doença no Estado.
Os municípios
- 1ª CRS: Porto Alegre, Canoas, Alvorada, Viamão, Gravataí, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Charqueadas;
- 3ª CRS: Pelotas, Rio Grande;
- 4ª CRS: Santa Maria;
- 5ª CRS: Caxias do Sul;
- 6ª CRS: Passo Fundo.
População em situação de rua e privados de liberdade são mais vulneráveis
Situações como falta de emprego e renda, insegurança alimentar, más condições de moradia e falta de acesso aos serviços de saúde podem influenciar no adoecimento por tuberculose. O número de casos mais expressivo é verificado entre a população em situação de rua e a população privada de liberdade, que são também as mais vulneráveis. Os imigrantes e os profissionais de saúde também se encontram em situação de vulnerabilidade. Uma incidência elevada de casos novos também é observada entre pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, indicando um maior risco de adoecimento.
De acordo com o informe epidemiológico, embora haja uma concentração de casos em algumas regiões, a doença tem se disseminado pelo território gaúcho. Os impactos das enchentes de 2024, que atingiu a população mais pobre de forma mais intensa, também aprofundaram as desigualdades existentes, dificultando o processo de recuperação.
Coinfecção com HIV
De acordo com o Boletim Epidemiológico da Tuberculose do Ministério da Saúde, em 2024, o RS apresentou a segunda maior taxa de coinfecção com HIV entre as unidades da federação (17,8%). A coinfecção apresenta menor proporção de cura se comparada com a taxa relativa à população geral. A alta proporção de interrupção de tratamentos e de óbitos evidenciam a complexidade e a gravidade da doença nessa faixa da população.
Embora o Rio Grande do Sul apresente bons resultados em termos de testagem para HIV nos casos novos de tuberculose, ainda precisa reforçar as ações para oferta de terapia antirretroviral em tempo oportuno para os casos diagnosticados com a coinfecção de tuberculose ou HIV. Esse acompanhamento é realizado nos serviços de referência dos municípios.
Estado investe na capacitação de equipes
A coordenação do cuidado, conduzida pelo Estado, realiza capacitações de equipes, faz vigilância epidemiológica e apoia os serviços de referência. A assistência direta também é disponibilizada no Hospital Sanatório Partenon (HSP), que atende casos de tuberculose drogarresistente de todo o Rio Grande do Sul.
De acordo com a diretora-técnica do HSP e coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, Carla Jarczewski, os dados do informe epidemiológico são obtidos a partir do preenchimento correto da ficha de notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação.
“Nosso papel é de retaguarda técnica para as equipes dos municípios, referenciando e auxiliando o trabalho desenvolvido. Da mesma forma, também sugerimos melhorias para que mais pessoas possam ser curadas”, afirma Carla.
Carla também salienta que a questão da tuberculose no estado é multifatorial e que o abandono do tratamento antes da finalização clínica contribui para a disseminação da doença.
Tratamento deve ser bem acompanhado
O tratamento diretamente observado é a estratégia pela qual o profissional das unidades básicas de saúde ou dos serviços de referência deve acompanhar a correta ingestão de medicamentos pelo paciente. Além disso, o trabalho para eliminação da tuberculose inclui a busca ativa e a avaliação de contatos, que permite a identificação de casos em estágios iniciais, permitindo que o tratamento ocorra em tempo oportuno.
Com essas ações, é possível quebrar a cadeia de transmissão e evitar a evolução para formas graves que, normalmente, estão relacionadas a diagnósticos tardios. A estratégia está alinhada com os princípios de descentralização do Sistema Único de Saúde e com o Programa Estadual de Incentivos para Atenção Primária à Saúde para pactuação de metas.
Vacina BCG
Aplicada ao nascer, a vacina BCG (bacilo de Calmette e Guérin) é a principal forma de proteção contra a tuberculose em crianças e adolescentes. A vacina está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. No Rio Grande do Sul, dos 5.317 casos novos de tuberculose registrados em 2024, 3,2% (168) foram diagnosticados em crianças e adolescentes de até 15 anos.
Texto: Mariana Ribeiro/Ascom SES
Edição: Secom