Margs presta homenagem ao centenário da imigração japonesa
Publicação:
O Margs, em conjunto com a Secretaria de Estado da Cultura e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, presta homenagem aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil com exposição homônima, que abre nesta quarta-feira (18), às 10h, nas Salas Negras do museu.
A data é considerada o grande marco do início da imigração nipônica no Brasil, com a chegada do navio Kasato Maru no porto de Santos (SP), em 1908. A mostra 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil inclui 12 obras do acervo do Margs de descendentes e artistas nascidos no Japão, incluindo grandes nomes como Kaminagai, Tomie Ohtake, Manabu Mabe, Fukushima e a nova geração revelada em trabalhos de Mauro Fuke, Kenji Fukuda e Alice Yamamura. A exposição também comemora a incorporação de duas novas gravuras recentes de Tomie Ohtake ao acervo do Margs, doadas pela artista.
Na programação paralela, o museu abre ainda no mesmo dia, às 18h, no Bistrô do Margs, a exposição De passagem por Tóquio com imagens da cidade captadas pelo fotógrafo Fernando Bueno. A visitação às mostras ocorre até 27 de julho, de terças a domingos, das 10h às 19h, com entrada franca.
Marco histórico
O dia 18 de junho é a data máxima das comemorações em torno do centenário da imigração japonesa no Brasil, que em 1908 trouxe oficialmente ao país 165 famílias nipônicas. Com a I Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil tornou-se um dos poucos países no mundo a aceitar os imigrantes, que aqui se estabeleceram especialmente na região sudeste, em São Paulo. Atualmente, cerca de 1,5 milhões de nikkeis (descendentes de japoneses que nasceram fora do Japão) vivem no Brasil, sendo a maior comunidade nipônica fora do continente asiático.
Tal marco histórico reverberou em todos os setores culturais e sociais, incluindo as manifestações plásticas: o abstracionismo é mobilizado com os trabalhos de Manabu Mabe; o japonismo inspira a prática modernizadora do design de Eliseu Visconti e da obra de Carlos Oswald, os modernistas paulistas olham o Japão como diferença e, nas telas de Anita Malfatti, os imigrantes são reconhecidos por sua descendência. Em 1935, integrantes da Escola Paulista de Belas Artes criam o Grupo Seibi (Seibikai), sociedade que existiu até 1972 com o intuito de fomentar a participação dos imigrantes nas ações artísticas. Dele participaram grandes nomes como Mabe, Kaminagai, Fukushima e Ohtake. Do Seibe surgiriam outras associações, como o Grupo 15 e o Grupo Guanabara, sendo este último ativo entre 1950 e 1995, na molduraria do pintor Tikashi Fukushima, em São Paulo, reunindo também imigrados da Itália - como Arcangelo Ianelli e Alzira e Armando Pecorari - num espaço de criação no qual os artistas discutiam seus trabalhos preservando a diversidade de tendências. No pós-guerra, a cultura japonesa aporta um traço singular: o Zen e a caligrafia ideogramática figuram nos gestos de Mabe, Shiró, Tomie Ohtake, Sachiko, Mira Schendel, Amilcar de Castro e Maiolino.
A mostra 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil reúne pinturas, esculturas, gravuras, tapeçarias e cerâmicas que cobrem de forma pontual este extenso período, de 1954 a 2001, passando pelos diversos acentos culturais japoneses no país até a produção mais contemporânea, incluindo obras de Manabu Mabe (Kuamamoto/Japão, 1924-1997), Tomie Otake (Kyoto/Japão, 1913-), Tikashi Fukushima (Tukushima,/Japão, 1920-2001), Tadashi Kaminagai (Hiroshima/Japão,1899-1982), Yutaka Toyota (Yamagata/Japão,1931-), Mauro Fuke (Porto Alegre/RS, 1961-), Minor Tomita (Bauru/SP, 1958-), Kenji Fukuda (São Paulo/SP, 1943), Takashi Fukushima (São Paulo/SP, 1950-) e Alice Yamamura (Paranavaí/PR, 1954-).
Sobre Tomie Ohtake
Considerada a dama da pintura no Brasil, Tomie Ohtake, naturalizada brasileira, chegou ao país aos 21 anos, iniciando sua carreira artística somente aos 40, também na gravura e na escultura. Integrou o Grupo Seibi, do qual participavam Mabe, Fukushima, Shiró e Kaminagai. Após um breve período de arte figurativa, define-se pelo abstracionismo. Surgem em suas obras as formas orgânicas e a sugestão de paisagens. Na década de 80, passa a utilizar uma gama cromática mais intensa e contrastante. É uma das principais representantes do abstracionismo informal e fundadora de Instituição que leva seu nome. Ao acervo do Margs, a artista doou recentemente duas gravuras executadas em 2002, que integram a mostra 100 anos da Imigração Japonesa.
Sobre De passagem por Tóquio, por Fernando Bueno
A exposição é resultado de uma viagem de três dias pela capital japonesa, na qual o fotógrafo captou, em 16 imagens coloridas, detalhes e paisagens que revelam a diversidade de Tóquio em meio a sua tradição milenar e extrema modernidade tecnológica. Grandes planos de templos e estátuas religiosas competem com os excessos da cidade: do amplo ruído visual até o close das típicas lanternas decorativas. O porto-alegrense Fernando Bueno é graduado em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde foi professor no final dos anos 90. Iniciou seu trabalho como fotógrafo em 1972, no jornal Zero Hora, vendendo trabalhos também para o Jornal do Brasil, Estado de São Paulo e O Globo. Em 1976 montou estúdio próprio voltado para a produção da fotografia publicitária, e entre os anos de 1980 e 2000 gerenciou o The Image Bank para os estados do RS e Santa Catarina. Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, entre elas a 1ª Bienal Internacional de Arte Fotográfica de São Paulo, Paris na Semana da Fotografia, Atenas na Semana da Fotografia, Paralelo 100 e Projeto Morro do Osso.