Programa do Estado, Rede Praia Acessível resgata alegria e autoestima de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida
Cidadãos como Adão Paulo Jesus Jr. são beneficiados com a iniciativa, que faz parte da Operação Verão Total
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Adão Paulo Jesus Jr. sempre foi um apaixonado pelo mar. Natural de Porto Alegre, ele viveu boa parte da vida tendo o oceano como palco de suas aventuras. No entanto, há cerca de 30 anos, sua história ganhou um novo rumo. Durante um dia de surfe na plataforma de Xangri-lá, no Litoral Norte gaúcho, uma onda forte o derrubou e a prancha atingiu sua cabeça. O acidente resultou em um AVC, que paralisou o lado esquerdo de seu corpo, e ele ficou em uma cadeira de rodas.
Para alguém que amava o mar, o acidente foi devastador. "Eu só podia observá-lo [mar] de longe, sentado na beira da praia. Era como ver um amigo querido que eu não podia mais abraçar", lembra Adão, que nunca desistiu de tomar um banho de mar novamente. "A minha reabilitação foi longa e desafiadora, mas nunca desisti. Com muito esforço, troquei a cadeira de rodas pela bengala. Ainda assim, o sonho de voltar ao mar parecia distante."
Essa realidade mudou em 2012, com o lançamento do programa Rede Praia Acessível, do governo do Estado. Ao participar do banho assistido pela primeira vez, Adão descreve a experiência como um renascimento: "Quando entrei na água, senti aquela adrenalina de novo, como nos velhos tempos de surfe. A energia do mar, o movimento da água... Não há palavras para descrever", diz ele, ressaltando que cada banho é único, uma nova chance de se reconectar com o oceano e com sua essência.
Além do contato com o mar, Adão acredita que o programa tem um impacto profundo na saúde emocional e psicológica dos participantes. "Muitos acabam se isolando, o que pode levar à depressão. O Rede Praia Acessível é muito mais do que um banho: é inclusão de verdade. Mostra que todos têm direito à alegria, ao lazer e a fazer parte da vida na praia. Nem tenho palavras para descrever tamanha a importância do que para muitos parece ser só um banho numa cadeira anfíbia”, conta.
Questionado sobre ter medo da experiência, ele seriamente diz: "Nunca me senti desafiado como quando surfava, muito bom me sentir assim de novo. Além disso, a equipe que realiza o atendimento é qualificada, atenciosa e cuidadosa. Explicam cada passo e garantem que tudo seja seguro. Não tem perigo, só alegria", frisa.
Morador de Xangri-lá há 10 anos, Adão espera que num futuro próximo todos os locais sejam acessíveis, possibilitando maior inclusão. “Hoje eu sinto que estamos mais próximos deste caminho, vejo as pessoas mais solicitas com quem tem mobilidade reduzida ou é PcD, vejo mais investimentos em acessibilidade apesar de ainda precisarmos muito mais. Pode me chamar de sonhador, mas eu sempre busco as autoridades e falo o que precisaria mudar para o local público e até privado ser acessível.... Pois eu tenho esperança de um mundo onde todos somos iguais e temos as mesmas oportunidades", destaca ele com a voz serena.
Ao encerrar, Adão deixa um recado para outras pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida: "Superem seus medos e venham. O mar é para todos. Vocês vão sentir uma alegria que não cabe no peito", conclui.
Entenda o programa
Coordenado pela Faders Acessibilidade e Inclusão, o Rede Praia Acessível é um marco na inclusão social do verão gaúcho. Parte da Operação Verão Total, do governo do Estado, o programa oferece banhos assistidos para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida em 44 guaritas de 34 municípios, abrangendo praias, piscinas, balneários fluviais e lagunares.
O serviço utiliza cadeiras anfíbias que garantem conforto e segurança, e é realizado desde o ano 2012 em parceria com as prefeituras gaúchas. No ano de 2024 foi possível ampliar o programa com o reforço do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul.
Desde então, os banhos são realizados por guarda-vidas treinados pela equipe da Faders e funcionários da Fundação. Nesta temporada, a instituição alcançou a meta de dobrar o número de guaritas acessíveis, assegurando que mais pessoas possam desfrutar de um verão inclusivo.
Guaritas acessíveis:
- Litoral Norte:
Torres (Guaritas 07 e 03)
Balneário Atlântico (Guarita 26)
Rondinha (Guarita 28)
Areias Brancas (Guarita 34)
Arroio do Sal (Guarita 38)
Balneário Figueirinha (Guarita 42)
Balneário Santa Rita (Guarita 49)
Curumin (Guarita 51)
Arroio Teixeira (Guarita 56)
Capão Novo (Guarita 61)
Araçá (Guarita 69)
Capão da Canoa (Guarita 76)
Atlântida (Guarita 84)
Xangri-lá (Guarita 92)
Atlântida Sul (Guarita 108)
Imara (Guarita 111)
Mariluz (Guarita 123)
Presidente ( Guarita 127)
Imbé Centro (Guarita 129)
Imbé Central (Guarita 133)
Tramandaí (Guarita 147)
Tramandaí Sul (Guarita 154)
Nova Tramandaí (Guarita 159)
Salinas (Guarita 174)
Cidreira (Guaritas 180 e 184)
Costa d Sol (Guarita 192)
Balneário Pinhal (Guarita 199)
Magistério (Guarita 209)
Quintão (Guarita 215)
Mostardas (Guarita 227) - Litoral Sul:
Cassino - Rio Grande (Guaritas 04,10,16)
Hermenegildo – Santa Vitória do Palmar (Guarita 23) - Águas internas:
Arambaré
Barra do Ribeiro
Cristal
Lagoa Fortalza (Cidreira)
Lagoa dos Barros ( Santo Antônio da Patrulha)
Lami (Porto Alegre)
Parque Náutico (Capão da Canoa)
São Lourenço do Sul
Mais inclusão, mais verão
O presidente da Faders, Marco Antônio Lang, afirma que o Rede Praia Acessível é mais do que um programa. “É uma ponte para a inclusão e a dignidade. Nossa meta era dobrar o número de guaritas acessíveis e conseguimos, já ultrapassamos... No domingo, com a inauguração da Guarita de Itapuã, em Viamão, teremos 45 em funcionamento. Isso mostra que estamos no caminho certo para um verão mais acessível para todos", afirma.
Para pessoas como Adão, o Rede Praia Acessível representa uma segunda chance de se conectar com o mar e com a própria essência. Para todos, é uma prova de que a inclusão transforma realidades e cria um mundo onde todos podem compartilhar da mesma alegria.
Texto: Bethania Haas Loblein/Ascom Faders
Edição: Éder Kurz/Secom