Saúde alerta para prevenção dos diferentes vírus da hepatite
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Dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS), apontam que no ano passado houve um aumento de casos de hepatites no Rio Grande do Sul, em relação a 2004. Segundo o CEVS e o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), em 2004 foram notificados 1203 casos de hepatite A, 1061 casos do tipo B e 2344 casos de hepatite C. Em 2005 foram 1331 casos de hepatite A, 1221 do vírus B e 2417 do vírus C e nenhum caso de hepatite D e E. Marilina Bercini, médica epidemiologista da SES, assegura que os casos de hepatites no Estado são notificados, investigados e todas as medidas de controle necessárias são desenvolvidas conforme a situação. A Saúde do Estado lembra que a vacina contra a Hepatite B está disponível em todos os postos de saúde para crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade e para profissionais da área da saúde. A vacina contra a Hepatite A é encontrada no CRIE (Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais) da SES/RS para situações especiais. A Saúde também alerta que a população pode ajudar em muito no controle da doença, adotando cuidados de higiene pessoal com os alimentos e no domicílio. Marilina afirma que o número de casos notificados de hepatites A, B e C vêm aumentando ao longo dos anos no RS, na medida em que o sistema de vigilância e o diagnóstico laboratorial vêm sendo implementados. O CEVS recebe as notificações dos médicos e hospitais através das secretarias municipais de Saúde e dessa forma controla a incidência da doença no Estado. O diagnóstico laboratorial tem sido implementado pelo Laboratório Central do Estado (Lacen/RS), com aumento progressivo dos exames realizados. Em relação à hepatite D, a região de ocorrência no Brasil é a Amazônia Legal e no caso da hepatite E, não é pesquisada em rotina porque não existe kit de laboratório comercial. A epidemiologista diz ainda que em surtos de hepatites A, por exemplo, é verificada a qualidade da água consumida pela comunidade. Na ausência de sistema público de abastecimento, a população é orientada pela vigilância epidemiológica para o uso de produtos à base de cloro, fervura da água, higiene domiciliar, lavagem rigorosa das mãos antes do preparo de alimentos e antes de comer, além da higienização de alimentos crus, como verduras e frutas. Em relação à hepatite B, Marilina esclarece que existe risco ocupacional para os profissionais de saúde (em especial dentistas e cirurgiões) que são orientados a seguir normas de biossegurança, como uso de luvas, óculos, máscara e avental durante os procedimentos e, além disso, deverão ser vacinados contra a doença. Prevenção De acordo com a epidemiologista, o conhecimento das formas de prevenção das hepatites virais, por meio de uma ampla e maciça divulgação, pode interromper a cadeia de propagação destes vírus. “Existem diferentes formas de prevenção e elas variam de acordo com o tipo de vírus”, afirma. As hepatites A e E têm como medidas de prevenção os cuidados com a higiene pessoal: lavar as mãos após ir ao banheiro, ao preparar alimentos e antes das refeições, além beber água tratada, lavar e desinfetar alimentos, como frutas e verduras, antes de serem consumidos crus. A disponibilidade de água potável em quantidade suficiente nos domicílios é a medida mais eficaz para o controle dessas hepatites. Além disso, a melhoria do saneamento básico é muito importante para o controle da infecção. A hepatite B tem como medidas de prevenção a vacinação, que confere imunidade efetiva em até 95% dos indivíduos jovens que recebem corretamente as três doses necessárias; o uso de preservativos nas relações sexuais; o uso das normas adequadas de biossegurança para qualquer tipo de cirurgia; o não compartilhamento de objetos de uso pessoal (escovas de dente, lâminas de barbear, alicates de unha) e dos materiais utilizados para uso de drogas injetáveis e inaladas (canudinho, cachimbo, seringas etc). Para a prevenção da hepatite C, utilizam-se os mesmos cuidados da hepatite B, com a diferença de não existir vacina contra esse vírus. As medidas de prevenção da hepatite D são as mesmas da B, já que esse vírus é adquirido apenas por pessoas que tiveram a B, vindo para agravá-la. A hepatite é uma infecção do fígado provocada por diferentes tipos de vírus, com características epidemiológicas, imunológicas e laboratoriais distintas. O vírus da hepatite A, por exemplo, tem o período de incubação curto, não cronifica e, na maioria das vezes, tem evolução benigna para cura. Já com o vírus da hepatite B, dependendo da idade do paciente infectado, o quadro pode evoluir para cronicidade em percentuais que variam de 10% a 90% dos casos. Na hepatite C a cronificação ocorre em 80% dos casos. O vírus da hepatite Delta, se associado ao vírus da hepatite B, agrava o quadro clínico do paciente, com evolução para cirrose ou câncer de fígado e a hepatite E pode trazer problemas sérios para gestantes. Sintomas As hepatites podem ou não apresentar sintomas. Quando presentes, os sintomas são os seguintes: mal-estar, cefaléia (dor de cabeça), febre baixa, anorexia (falta de apetite), astenia (cansaço), fadiga, artralgia (dor nas articulações), náuseas, vômitos, prurido (coceira), desconforto abdominal na região do fígado e aversão a alguns alimentos e ao cigarro. A icterícia geralmente começa quando a febre desaparece e pode ser precedida por colúria (urina escura) e hipocolia fecal (descoloração das fezes). A hepatomegalia (aumento do fígado) ou a hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço) também podem se apresentar como sintomas. Transmissão A transmissão do vírus da hepatite varia de acordo com o agente etiológico. Nas hepatites A e E a transmissão é fecal-oral, ocorrida por meio de água e alimentos contaminados ou pelo contato de pessoa a pessoa (contato intrafamiliar e institucional). As hepatites B e D podem ser transmitidas pela via sexual, pelo sangue (parenteral), pelo compartilhamento de objetos de higiene pessoal, após confecção de tatuagens e colocação de piercings. Também é possível ocorrer contaminação durante procedimentos cirúrgicos e odontológicos sem a adequada biossegurança. A mãe pode passar para o bebê (transmissão perinatal). A principal fonte de contaminação da hepatite C na atualidade é o uso de drogas injetáveis, de forma compartilhada. Tratamento Segundo Marilina Bercini, não existe tratamento específico para a forma aguda da hepatite. “Se necessário, o tratamento pode ser apenas sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se repouso. Dieta pobre em gordura e rica em carboidratos é popularmente utilizada, porém seu maior benefício é ser mais palatável para o paciente anoréxico. De forma prática, deve ser recomendado que o próprio paciente defina sua dieta de acordo com seu apetite e aceitação alimentar. A única restrição está relacionada à ingestão de álcool, que deve ser suspensa por seis meses, no mínimo, e preferencialmente por um ano. Medicamentos não devem ser administrados sem recomendação médica para que não agravem o dano hepático.” No caso da forma crônica das hepatites B e C, pode ser usado o medicamento interferon, de acordo com a avaliação clínica e protocolos específicos, lembra a epidemiologista.