Seminário aborda prevenção ao suicídio na infância e adolescência com foco em instituições de ensino
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Com foco nas instituições de ensino, foi realizado, nesta semana, em Porto Alegre, o Seminário Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio na Infância e Adolescência. O evento foi promovido pelo Comitê Estadual de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio, que é presidido pela Secretaria da Saúde e formado pelas secretarias da Educação, Segurança Pública, Justiça e Sistema Penal e Socioeducativo, entre outras entidades governamentais e não governamentais.
“Promover a vida de uma criança, de um adolescente, de um adulto jovem é algo tão significativo e tão grande que precisamos realmente estar juntos, porque não é uma tarefa simples e fácil", afirmou a secretária adjunta da Saúde, Ana Costa. Segundo ela, historicamente há um aumento da violência autoprovocada e do suicídio nesta faixa etária. Essa situação preocupa, disse, ainda mais no contexto pandêmico. “Não podemos desconsiderar, também, que o contexto da pandemia traz um acréscimo de desafios de saúde mental a todos, inclusive às crianças e aos adolescentes, acrescentou no evento realizado no Salão Nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), apoiadora do seminário.
O painel de abertura foi conduzido por Kelly Graziani Giacchero Vedana, doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). Trazendo para o debate a prevenção da violência autoprovocada em instituições de ensino, Kelly explicou características fundamentais do que são autolesões não suicidas. “Não se trata de uma falsa tentativa, não são apenas cortes. Precisamos olhar para esses episódios como mecanismos de gerenciamento e regulação de emoções, como métodos encontrados para lidar com dificuldades e sofrimento, principalmente em adolescentes”, disse. A palestrante descreveu que a autolesão pode coexistir junto com comportamento suicida, iniciando por volta dos 11 a 13 anos de idade, tendo maior incidência em adolescentes e mulheres. “O aspecto pejorativo de ‘chamar a atenção’ é um dos estigmas de não compreensão que impedem esses jovens de pedir ajuda. É necessário qualificar a oferta de ajuda efetiva nas famílias e nos ambientes em que eles circulam”, ponderou.
Autolesão não suicida – o que fazer:
• Definir estratégias para redução de danos
• Acolhimento e psicoeducação (como lidar sobre o tema)
• Comunicação sobre emoções e necessidades
• Rede de apoio: adultos que saibam o que está acontecendo e possam agir
Nos casos de comportamento suicida, a característica diferencial é a intencionalidade das ações auto-inflingidas. “O suicídio é um fenômeno complexo e inquietante, multifatorial, de difícil previsibilidade e limitado poder preditivo dentro da clínica”, explicou Kelly. De acordo com ela, em posturas suicidas de fato, a raiva de si mesmo, a impulsividade, a dor emocional, a desesperança, o estresse, a agitação e a falta de sentido formam uma bola de neve, levando a criança, o adolescente ou o jovem adulto a um limiar de atitudes extremas com desejo de parar tal sofrimento. “É necessário buscar compreender a gama de fatores que envolve, mas sem uma perspectiva acusatória. Explicações reducionistas sobre o suicídio ou relacionar que alguém tenha alguma culpa tornam a busca improdutiva”, ressalta.
Fatores de risco e sinais de sofrimento na adolescência:
• Transtornos mentais
• Violências
• Alteração do comportamento no desempenho escolar
• Desinteresse pelo próprio bem-estar
• Acessibilidade a meios letais
• Estigma, discriminação
• Desafios/conflitos
Sobre o papel das instituições de ensino, Kelly destaca ainda a responsabilidade fundamental de abordagens complementares, tanto para risco imediato quanto para posvenção. “A escuta sem julgamento, a promoção da segurança, o suporte profissional, o entendimento de relações interpessoais, contexto social e cultura organizacional são maneiras de acolher, compreender e reduzir danos”, esclareceu.
Baseada na experiência em Ribeirão Preto, a palestrante evidenciou o quanto olhar para a realidade brasileira, e não para a literatura acadêmica de outros países, trouxe mudanças significativas. “O mapeamento da comunidade nos mostra exatamente onde estão as falhas. É essencial reconhecer o quanto instituições de ensino seguem perpetrando violências, especialmente em públicos mais vulneráveis, como LGBTQIAPN+. Ainda precisamos avançar muito, olhar de verdade para demandas como banheiro por gênero, nome social, exclusão dentro de ambientes de ensino”, destacou.
O que a instituições de ensino podem fazer:
• Proporcionar abordagens com medidas não guiadas pelo desespero – alternativas para alívio da dor e do sofrimento
• Cursos, disciplinas, consultorias e supervisão, oficinas que abordem inclusão e pertencimento de forma ampla
• Reconhecer violências institucionais e repensar os impactos na sociedade
• Formação de gatekeepers para identificação precoce e apoio à situação de crise
• Ações multiníveis e longitudinais
• Ações não restritas a campanhas pontuais ou quando algum evento indesejável acontece
• Postura acolhedora não só com estudantes: olhar também para professores
• Interface com famílias, colaborando para o aprimoramento de habilidades de comunicação, expressão assertiva e manejo de conflitos
• Interface com unidades de saúde que estão no mesmo território da instituição de ensino
O seminário também contou com a mesa redonda “Interfaces no trabalho de prevenção do comportamento suicida em crianças e adolescentes”, que teve as seguintes participações: Maria Luisa Braga Giacobbo, coordenadora Estadual do CIPAVE; Ana Luiza Tonietto Lovato, coordenadora da Política da Saúde do Adolescente da SES e do Programa Saúde na Escola; Maria Rosa Kramer Iorra Camargo, psiquiatra especialista em infância e adolescência de Lajeado; e Fernanda Barreto Mielke, da coordenação da Política Estadual de Saúde Mental/DAPPS/SES.
Texto: Mariana Ribeiro / Ascom SES
Edição: Secom