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Artigo: Por uma nova ordem, de Ariane Leitão

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O renomado autor Eric Hobsbawm, em seu livro a Era dos Extremos, reconhece: “A revolução que realmente vingou, no século XX, foi a feminista”. Essa afirmação denota o permanente avanço das mulheres em relação à ocupação dos espaços públicos e o rompimento com a ordem que impunha às mesmas, a resignação da esfera privada. A participação no mundo dos negócios, da cultura ou da política confirma este movimento emancipatório, impulsionado especialmente pela inserção feminina no mercado de trabalho.

Os primeiros processos mobilizatórios que envolveram as mulheres, no século XIX, tinham exatamente o elemento das relações de trabalho: condições precárias, jornadas exaustivas e salários parcos. Este contexto foi propício para visibilidade da condição feminina no mundo público, marcando a necessidade de um dia de luta para evidenciar esta nova perspectiva da mulher na sociedade e a internacionalização deste movimento. No Brasil, o sufrágio do voto feminino, com a garantia de direitos políticos às mulheres, coadunou as diversas manifestações feministas que ocorriam pelo mundo.  

Gradativamente obtivemos conquistas, que não ocorreram e não ocorrem sem acirramentos ou tensões, afinal a busca por igualdade de direitos sempre nos remete a processos conflituosos. A manutenção da cultura preponderantemente masculina provoca preconceito e remete a condição feminina à violência e à discriminação. Neste aspecto, a dupla jornada, a violência conjugal e a discriminação no mercado de trabalho são violações que constituem a identidade de gênero das brasileiras.

Convivemos com a herança violenta de uma formação social em que aos homens tudo era permitido, inclusive a decisão sobre a vida das mulheres, escravos e crianças que ficavam sob seu domínio. O mundo privado não permitia nenhuma intervenção, e a luta pela sobrevivência era compartilhada entre esses atores sociais. Realidade nem um pouco distante, diante do machismo e do racismo que permanecem no âmago da sociedade brasileira.

A ruptura com o mundo doméstico, questionando, inclusive, a função biológica reprodutora da mulher, gravidez e parto, como uma necessidade imperiosa à existência e à felicidade feminina, e a negação à ideologia da domesticidade são elementos que dialogam diretamente com o novo papel da mulher moderna e a vida pública. O empoderamento das mulheres reside na conquista da autonomia como objetivo prioritário. Porém, para chegar ao estágio autônomo da vida, a igualdade, a liberdade e independência devem estar asseguradas na perspectiva social, cultural, econômica e sexual.

Neste sentido, nos deparamos com um fenômeno em expansão: a feminização cultural. Que se trata da elucidação da condição feminina como sujeito de direitos autônomo, transformando o imaginário social e desfazendo a ideia de superioridade do masculino sobre o feminino. Ao assumir este “novo” papel social, a mulher provoca também uma nova ordem familiar, que descentraliza do homem a condição de liderança, de chefe de família e único provedor, ocasionando assim a desierarquização entre os sexos, uma quebra de modelo social historicamente imposto para a construção da famílias.

Ainda que se percebam avanços ao longo do tempo, com conquistas reais de direitos para as mulheres, ainda é necessária a potencialização do feminismo como principal produtor das mudanças positivas. Com a feminização da cultura, pela inserção de valores, ideias e concepções femininas em um mundo masculino e de culto falocêntrico, caminha-se para a valorização do ideário feminista e libertário, com a ascendente inclusão das mulheres e dos temas relacionados a elas no mundo contemporâneo.

No mês de março celebramos conquistas, com a certeza de que o trabalho realizado pela primeira Secretaria de Políticas para as Mulheres do Rio Grande do Sul comprova que estamos construindo esta nova ordem. A política também vem absorvendo os novos tempos de participação e empoderamento das mulheres, pautando a necessidade de espaços públicos voltados à garantia dos direitos humanos da maioria da população brasileira e gaúcha como uma prioridade, também para os governos.

No Estado, com a oferta de programas e serviços como o Crédito Lilás e o Pronatec Lilás, lançados pela Secretaria de Políticas para as Mulheres em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, estamos trilhando este caminho em direção à promoção da autonomia das mulheres gaúchas que, livres, conquistam gradativamente sua independência.

Ariane Leitão,
Secretária de Estado de Políticas para as Mulheres

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