Discurso do governador na conferência Getúlio Vargas: Um tiro que atravessou a história
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Pronunciamento do governador Germano Rigotto na abertura da Conferência Getúlio Vargas: Um tiro que atravessou a história. Rio dee Janeiro, 23.08.2004 Getúlio Dornelles Vargas, um gaúcho, um brasileiro. Não haveria maneira de lançar um olhar sobre a história política de nosso país, sem dedicar atenção a esse filho de Manuel e Cândida Vargas, nascido na nossa histórica São Borja. Como governador do Estado do Rio Grande do Sul, saúdo a iniciativa do Jornal do Brasil - que tem o apoio da Petrobrás, da Fundação Getúlio Vargas, do Museu da República, da Gazeta Mercantil e da Forbes Brasil - de recordar, passados cinqüenta anos de sua morte, a vida e a obra do ex-presidente Getúlio Vargas. Ler e interpretar a história humana é uma atividade que se condiciona pela razão. Quem lê os episódios históricos e a biografia de seus protagonistas através da racionalidade científica, não costuma separá-los em prateleiras conceituais absolutas, como a do bem ou a do mal, a do certo ou do errado, a da virtude pura ou a do pecado completo. Acreditar em líderes perfeitos, em ideologias prontas e em períodos históricos incorrigíveis não contribui para a tarefa de, como quer este evento, lançar um olhar sereno sobre a história. A verdade é que não há homem imune ao erro, assim como não há biografias humanas que monopolizem todo o bem e, por conseqüência, não há períodos históricos intocáveis sob o ponto de vista ético. É por isso que não olharíamos - nem nós, seus conterrâneos - para a história de Getúlio Vargas sem deixar de lamentar alguns excessos havidos no obscurantismo do Estado Novo, tais como a uso da mão excessivamente pesada do Estado, a dissolvição do Parlamento, as práticas fascistas de ação política, a ditadura. Por mais que os fins fossem bons, nem assim eles serviriam para justificar a ausência de democracia daquele período. Contudo, de uma coisa temos absoluta convicção: o Rio Grande ofereceu ao país um dos maiores estadistas de todos os tempos. Se o período do Estado Novo depôs contra todo o trabalho de Getúlio Vargas, sua trajetória política e sua obra, com certeza, deixaram como herança e como legado um saldo amplamente positivo. Tanto é assim que, todos sabemos, depois desse período ele foi conduzido à presidência pelo voto direto. Ou seja, pelas mãos do povo brasileiro. É esse saldo positivo, são suas obras e sua preocupação com o povo que nós queremos ressaltar no aniversário de sua morte. Porque recuperar a história valorizando seus aspectos positivos, como o Jornal do Brasil está nos possibilitando fazer, ajuda a melhor compreender o presente e a melhor preparar o futuro. Temos de lembrar, então, de que foi pelas mãos de Getúlio Vargas que nasceram o Ministério da Educação e da Saúde. Seu governo fundou a Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), regulamentou o ensino médio, estimulou a preservação do patrimônio cultural do país. Criou também o Ministério do Trabalho, iniciativa que trouxe consigo a promulgação da legislação trabalhista de base, unificada depois na CLT, até hoje vigente. O direito de sindicalizar-se e de fazer greve, o sindicato único e o imposto sindical que o manteria, as férias pagas, o salário mínimo, a indenização por tempo de serviço, a estabilidade no emprego, o sábado livre, a jornada de oito horas e a igualdade de salários para ambos os sexos foram apenas algumas de suas muitas ações que - concordemos ou não com seu mérito - foram motivadas pela preocupação de Getúlio com os trabalhadores e com os mais humildes. Os bons exemplos das biografias, como os tem majoritariamente a de Getúlio, se olhados com a serenidade da razão, tendem a estimular progressos civilizatórios, a ensinar lições que se transmitem pelas gerações e a colaborar para que as nações errem cada vez menos e para que os homens sejam cada vez melhores. Tendem, enfim, a estimular o espírito cívico, o amor à Pátria e o respeito por nossa história. É por tudo isso que me senti privilegiado pelo convite que recebi do Jornal do Brasil para comparecer a esta Conferência. E vim porque sei que vosso objetivo é, exatamente, recuperar a história do ex-presidente Getúlio Vargas, de modo a valorizar seu legado, sua herança, seus exemplos e suas obras. Como gaúchos, temos orgulho de ter oferecido ao Brasil um político com tantos feitos e realizações, e tão devoto ao país em que nasceu. E, tal como Getúlio, o Rio Grande do Sul é um Estado que se orgulha de ser brasileiro e que contruibui para o progresso do país. Parabéns pela iniciativa deste evento. E muito obrigado.