Estado avança na busca da auto-suficiência em energia
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O Rio Grande do Sul alcançou, nesta semana, um dos menores níveis de importação de energia elétrica em 2006. A utilização de 584,9 megawatts (MW) não-gerados no Estado representa 60,4% menos do que foi preciso importar em agosto. Nessa terça-feira, de acordo com o Acompanhamento Diário da Operação do Sistema Eletroenergético, divulgado pela Secretaria de Energia, Minas e Comunicações (Semc), a carga no Rio Grande do Sul foi de 2.801,3 MW médios. O Estado produziu 2.216,4 MW médios, ou seja, 79,12% da carga. Foi um dos melhores resultados do ano. Com os projetos em andamento para expandir a produção de energia elétrica, o Rio Grande do Sul está se antecipando para fazer frente a um crescimento de consumo estimado em 3,9% ao ano até 2010. Além de se preparar para atender à demanda sem o risco de escassez, o Estado lança bases para conquistar a auto-suficiência na geração de energia e, mais do que isso, para tornar-se um exportador. Atualmente, o Rio Grande do Sul importa 37% de uma demanda de consumo de 4.461 MW. Os investimentos em diferentes fontes de energia totalizam R$ 10,1 bilhões. Só em usinas hidrelétricas, são mais de R$ 7 bilhões. Leilão Para o Leilão de Energia Elétrica de Novos Empreendimentos, marcado para 10 de outubro, 13 unidades gaúchas do setor estão habilitadas a participar. Elas se dividem em oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), duas usinas hidrelétricas, duas térmelétricas a carvão mineral e uma térmica a óleo combustível, que têm capacidade para produzir no total 2.173,30 MW. Entre os 318 novos empreendimentos privados atraídos para o Rio Grande do Sul durante os 45 meses do atual Governo do Estado - que correspondem à aplicação de R$ 30,7 bilhões e oferta de 57,3 mil novos empregos -, o setor energético é o que mais soma investimentos. Os projetos em fase de instalação incluem sete hidrelétricas, dez PCHs, quatro termelétricas e o Parque Eólico de Osório, com três módulos - Osório, Sangradouro e Índios, cada um com potência de 50 MW. Todas essas plantas juntas representam para o Rio Grande do Sul um ganho de 2.034,2 MW. Alternativas As fontes alternativas de energia são responsáveis, atualmente, por 4,2% da capacidade instalada do Rio Grande do Sul. Isso equivale a 194 MW. No Parque Eólico, em construção pela empresa gaúcha CIP Brasil em conjunto com a espanhola Enerfim Enervento - sócia majoritária da Ventos do Sul S/A -, serão investidos R$ 670 milhões, dos quais 69% (R$ 465 milhões) serão cobertos por financiamento do BNDES. Por parte do BRDE, da CaixaRS e do Banrisul, serão financiados 26%, o equivalente a R$ 120 milhões. Mais R$ 105 milhões virão do Consórcio B Brasil - formado pelo Banrisul, CaixaRS, Santander e ABN Amro Real. O Parque Osório teve as operações de 25 torres iniciadas no último dia 28 de junho. Até o final deste mês, começa a funcionar o Sangradouro. O terceiro deverá estar pronto para entrar em atividade ainda neste ano. Aprovado na primeira fase do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), da Eletrobrás, que garante a compra de energia por 20 anos, o projeto prevê ao todo 75 torres de 98 metros cada uma. Com acréscimo das pás, elas atingem 135 metros de altura. Por reivindicação do governador do Estado, o governo federal adotou a cota de 20% na fonte eólica para cada Estado, o que possibilitou ao Rio Grande do Sul a conquista de cinco módulos geradores de energia por meio dos ventos. Além dos 150 MW a serem produzidos por Osório, Sangradouro e Índios, futuramente serão gerados mais 70 MW pelo Parque Tramandaí e outros 7,56 MW pelo Parque Palmares do Sul. Carvão Além do esforço para acelerar a conclusão de obras que envolvem fontes alternativas de energia - como eólica, biomassa e as usinas a carvão de Jacuí 1 (350 MW), Presidente Médici Fase C (antiga Candiota 3, também de 350 MW) e os projetos Seival (500 MW), em Candiota, e da CTSul (650 MW), em Cachoeira do Sul -, o Governo do Estado cobra do governo federal a definição de uma política clara para uso do carvão dentro do novo modelo energético brasileiro. Hoje, o carvão está presente em 11% da capacidade energética instalada do Rio Grande do Sul. Dentro de aproximadamente quatro anos, com a entrada em operação das usinas Jacuí 1 e Presidente Médici Fase C, a participação do mineral deverá ser três vezes superior, chegando aos 32%. Para o governador do Estado, apostar em termelétricas a carvão significa sair à frente na solução de problemas futuros com a falta de energia hídrica. Além disso, a energia produzida nas termelétricas a carvão é limpa, porque não polui. Com a possibilidade de se ter o carvão gaúcho como fonte de termeletricidade, trabalhamos para garantir o seu aproveitamento. Já temos a energia eólica e, diante da perspectiva de necessidade que o Brasil terá de mais geração de energia, é importante que o carvão seja contemplado na matriz energética nacional. Há um espaço enorme para isso, afirma o governador. Biomassa e biogás A energia obtida a partir de biomassa também faz parte do conjunto de projetos gaúchos em busca de novas alternativas. São utilizados para esse tipo de energia os resíduos florestais e agrícolas e as matérias orgânicas contidas nos resíduos industriais, domésticos, comerciais e rurais. Eles são convertidos em calor e depois em energia, por processos de combustão. Nove termelétricas à base de biomassa já operam no Rio Grande do Sul. Em Itaqui, São Gabriel, Bagé e São Pedro do Sul, a fonte usada é a casca de arroz. Em Piratini e Encruzilhada do Sul, as termelétricas se valem de resíduos de madeira, e em Guaíba e Cambará do Sul, da celulose e do licor negro. Outra usina, instalada em Montenegro, utiliza casca de acácia. A potência total instalada é de 84,2 MW. Outros nove projetos estão em fase de estudo ou execução. Dois deles se localizam em Alegrete. Os demais ficarão em Pelotas, Dom Pedrito, São Sepé, São Borja, Rio Grande, Itaqui e Camaquã. Com exceção da usina de Rio Grande, que vai transformar cavaco de madeira em energia, todas as outras terão como fonte a casca de arroz. Ao todo, elas vão produzir 90,8 MW. O biogás, gerado a partir do metano (CH4), obtido por meio de tratamento de dejetos da criação de suínos, será testado em projetos pilotos já concluídos e que serão implantados nos municípios de Harmonia, Capitão e São Pedro do Butiá. O planejamento inicial prevê o envolvimento de 40 mil suínos e a geração de 9,6 mil metros cúbicos/dia de biogás. Há expectativa de que sejam recebidos R$ 2,8 milhões por ano em créditos de carbono, a fundo perdido, por intermédio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), inserido no Protocolo de Kyoto. Pelo valor agregado que trarão à suinocultura gaúcha, as usinas de biogás terão grande importância econômica e social. Mas, além disso, vão beneficiar o meio ambiente ao oferecer um destino a uma grande quantidade de resíduos suínos que hoje ficam expostos e representam perigo.