Estado presta homenagem ao gaúcho João Cândido, o Almirante Negro
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Há muito tempo/Nas águas da Guanabara/O dragão do mar reapareceu/Na figura de um bravo marinheiro/A quem a história não esqueceu (Trecho da letra da música O mestre-sala dos mares, de João Bosco e Aldir Blanc) Nesta segunda-feira (26), a partir das 18h, no Theatro São Pedro, a Secretaria Estadual da Cultura promove um grande ato em homenagem a João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata - um dos principais movimentos sociais da história brasileira, ocorrido em 1910 no Rio de Janeiro - protagonizado por este gaúcho de Encruzilhada do Sul. O evento que está mobilizando todas as entidades negras do Estado contará com a presença da filha do marinheiro, Dona Zelândia, de 78 anos, que virá do Rio de Janeiro para receber a homenagem dos gaúchos. O projeto, que propõe a anistia post mortem de João Cândido, já foi aprovado no Congresso Nacional após tramitar na Câmara Federal e no Senado. De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Luiz Marques, o ato é o ponto de partida. A proposta é que ele inicie um processo de valorização e recuperação da memória dos heróis populares esquecidos pela história oficial, estendendo esta conscientização a outros Estados, anuncia Marques. João Cândido era gaúcho e trabalhava embarcado no então moderníssimo encouraçado Minas Gerais. A marinha brasileira estava à época extremamente bem equipada, mas reproduzia dentro dos seus navios modelos sociais arcaicos, remanescentes do sistema escravagista. Tal como João Cândido, o grosso da marinhagem era composto por negros, que eram tratados pela oficialidade com rigor e mesmo crueldade, sendo comuns castigos humilhantes como a aplicação de chibatadas. A revolta de 1910 espalhou-se do Minas Gerais para outras embarcações atracadas na baía da Guanabara. Os marinheiros amotinaram-se, aprisionaram os oficiais e assestaram os canhões contra a capital da República. Após longa negociação, o governo de Deodoro da Fonseca concordou com as exigências dos amotinados, que incluíam a anistia dos revoltosos. Ao descerem a terra, porém, os amotinados foram mortos ou presos e banidos para o Acre, destino de João Cândido. PROGRAMAÇÃO Confira a programação do ato em homenagem a João Cândido em Porto Alegre, marcado para o dia 26 de agosto no Theatro São Pedro (Praça da Matriz, s/nº, Centro, Porto Alegre). Entrada franca para todos os espetáculos: 18h - Abertura ao público da exposição sobre João Cândido. São painéis sobre a história do Almirante Negro, a partir de textos de jornais da época até hoje, transformados em arte contemporânea na visão dos artistas plásticos Ney Ortiz, Maia, Jaci e Vidal, integrantes do Grupo Cultural Raízes d´África. Mostram o ingresso na marinha, os castigos, a revolta e as humilhações sofridas pelos marinheiros. Saguão do Theatro São Pedro. 18h30 - Abertura oficial com pronunciamento de Dona Zelândia, do secretário Luiz Marques, do governador Olívio Dutra e descerramento da placa de criação do Centro Cultural João Cândido, a ser instalado futuramente nos armazéns do Cais do Porto. 19h30 - O ator Sirmar Antunes (co-protagonista do filme Netto Perde Sua Alma) interpreta texto adaptado do espetáculo de música, dança, artes plásticas e teatro João Cândido Vive, de Ney Ortiz (Grupo Raízes d´África). 20h - Grupo afro Orgulho da Raça, de Encruzilhada do Sul apresenta espetáculo de dança e percussão. 20h30 - Apresentação do Coral do Cecune - Centro Ecumênico de Cultura Negra. Encerramento