Governo e setor produtivo avaliam anúncio de tarifas dos EUA e alertam para impactos em empresas e empregos no Estado
RS é o segundo Estado brasileiro mais impactado pelas medidas, com perda potencial de R$ 1,92 bilhão no PIB, aponta Fiergs
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Com o objetivo de reunir subsídios e articular estratégias diante do anúncio das tarifas de 50% anunciadas pelos Estados Unidos (EUA) contra produtos brasileiros, o governo do Estado promoveu na sexta-feira (18/7) uma reunião com representantes da indústria gaúcha, da diplomacia norte-americana e de entidades empresariais. O encontro foi conduzido pelo governador Eduardo Leite no Salão Alberto Pasqualini, no Palácio Piratini, com a participação do cônsul-geral dos EUA em Porto Alegre, Jason Green.
Durante a reunião, lideranças de quatro setores fortemente expostos ao mercado americano (armas e munições; madeira e móveis; pescados e calçados) relataram impactos já sentidos mesmo antes da entrada em vigor das tarifas, prevista para 1º de agosto. A expectativa negativa gerada pelas medidas tem levado a cancelamentos de encomendas, suspensão de contratos e paralisação de compras.
“Existem empresas no Estado que exportam praticamente 100% da sua produção para os Estados Unidos. Comunidades inteiras estão sob risco. E esse impacto não será sentido apenas aqui: há também consequências diretas sobre cadeias produtivas e empregos nos próprios Estados Unidos. Por isso, nosso apelo é para que se avalie a postergação da entrada em vigor dessas tarifas, o que permitiria tempo para negociação, minimizando danos para os dois países”, afirmou o governador.

Impactos para a economia gaúcha
Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), o Rio Grande do Sul é o segundo estado brasileiro mais impactado pelas medidas, com uma perda potencial de R$ 1,92 bilhão no PIB.
O mercado americano é o maior parceiro comercial da indústria de transformação gaúcha, respondendo por 11,2% das exportações do setor em 2024, o equivalente a US$ 1,8 bilhão. Em segmentos como o de armas e munições, a dependência é ainda maior: 85,9% das exportações têm como destino os EUA.
Apoio emergencial
O governador também defendeu que o governo federal avalie a adoção de medidas de apoio emergencial aos setores mais atingidos, caso não haja revisão das tarifas. No encontro, representantes da Fiergs apresentaram dados técnicos sobre os impactos econômicos das tarifas e reforçaram a necessidade de uma atuação diplomática firme, mas serena, por parte do governo brasileiro.
“É um momento de muito diálogo, não podemos de maneira nenhuma acirrar ainda mais essa situação. A Fiergs está muito preocupada com essa situação. Já tivemos reuniões com as federações do Sul e com a Confederação Nacional da Indústria, e na segunda-feira teremos uma reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, em Brasília. Não podemos deixar passar nenhuma tentativa de acordo, porque é fundamental para que venhamos a conseguir um resultado melhor para nossas indústrias”, destacou o presidente da entidade, Cláudio Bier.

Foco nas negociações
Leite reiterou que o governo estadual atua como articulador e porta-voz dos interesses locais, reconhecendo que negociações comerciais se dão entre governos nacionais.
“Nosso papel é levar informações qualificadas para que o Brasil tenha argumentos sólidos nas tratativas com os Estados Unidos. E, acima de tudo, garantir que essa crise não seja instrumentalizada politicamente. O que está em jogo é o Brasil, não projetos eleitorais.”
Além do governador, participaram do encontro os secretários Artur Lemos (Casa Civil), Ernani Polo (Desenvolvimento Econômico), Pricilla Santana (Fazenda), e o presidente da InvestRS, Rafael Prikladnicki. Também estiveram presentes representantes da Abicalçados, CMPC, Farsul, Federasul, Fecomércio, GM, Tramontina, Braskem, Dell, Movergs, Sinborsul, Verallia, entre outras empresas e entidades setoriais.
Texto: Juliano Rodrigues/Secom
Edição: Anderson Machado/Secom