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Jacoby discute criação da Casa de Cultura Iberê Camargo em Restinga Seca

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O secretário da Cultura, Roque Jacoby, participa, nesta sexta feira (22), em Restinga Seca, de reunião com a Prefeitura para analisar projeto de restauração, com verbas a serem captadas via LIC, do prédio da futura Casa de Cultura Iberê Camargo, na avenida Júlio de Castilhos, com o apoio do empresário Jorge Gerdau. O casarão, construído em 1927, o mais antigo em destaque no município, serviu de hospital para o médico Miguel de Patta, que participou da Primeira Guerra Mundial, na Itália, tendo também sido ocupado pela Prefeitura e por um colégio de freiras, durante a emancipação em 25 de março de 1959. O imóvel, tombado pelo município em 1995, necessita de reformas elétricas e hidráulicas e também na estrutura da construção, segundo o secretário municipal de Indústria, Comércio, Turismo, Cultura, Desporto e Lazer, Nélson Bartmann. Ali deverão funcionar uma pinacoteca, uma biblioteca, um museu e uma sala audiovisual. Na futura Casa de Cultura, deverá, em agosto, funcionar uma escola de música, com já 150 candidatos, destinada especialmente a alunos carentes, valorizando os talentos locais. A banda municipal, composta por 40 músicos, de oito a 16 anos, está ensaiando no local. O regente é Alex Procknow, instrumentista de oboé, que estudou na Universidade Federal de Santa Maria e também na OSPA. Conforme o assessor da secretaria, professor de música, escultor, amigo pessoal de Iberê Camargo e acordeonista, Protógenes de Melo, a idéia de transformar o prédio numa Casa de Cultura a exemplo da Mario Quintana, abrigando museu, discoteca e biblioteca, foi abandonada há alguns anos, tendo todos os materiais sido deixados em um galpão. A administração atual, do prefeito Tarcísio Bolzan e do vice-prefeito Cláudio Tonetto, constatou a realidade do prédio. A alvenaria é sólida, com o parquê do assoalho do piso térreo em muito boas condições, mas é preciso mudar janelas e portas, além de eliminar carunchos existentes no chão do piso superior. Um projeto de restauração do casarão foi elaborado pelos engenheiros da Prefeitura Luiz Gustavo Brenner da Silveira e Marcos Ferreira Froes. A idéia é buscar financiamento, junto à LIC, para as obras orçadas em R$ 200 mil. Na Casa de Cultura, poderá ser preservada a memória das colonizações alemã, italiana e até holandesa. Há também necessidade de preservar a cultura afro-descendente. Restinga Seca possui dois quilombos, São Miguel dos Carvalhos, junto à entrada de asfalto da cidade, e Martimianos, a cinco e dois quilômetros da sede, onde residem 200 famílias. Somente em São Miguel há mais de 100 famílias morando e uma escola municipal, Albino de Carvalho, com cerca de 200 alunos. No quilombo, há quadra de esportes e salão comunitário onde os afrodescendentes realizam festas religiosas como casamentos e batizados. A autenticidade desses quilombos já foi atestada por pesquisas antropológicas, registradas num livro de 300 páginas editado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Durante a administração do prefeito Gaudêncio da Costa(PP), de 2001 a 2004, foi derrubado um bosque de ciprestes para que possa ser usada a área pertencente à Prefeitura. A idéia é doar o atual prédio da Prefeitura, na rua Moisés Cantarelli, 368, para a Unifra dotar Restinga Seca de uma faculdade, já que hoje só existe um curso de Administração. Forte também em Restinga Seca é o talento de cerca de 20 artistas plásticas reunidas na Sociedade Artístico-cultural. São pintoras que estudaram em Santa Maria, na universidade federal, que constantemente realizam exposições. Em 10 de agosto, no auditório da Câmara Municipal, com 100 lugares, ou no Clube Seco, será realizado um segundo espetáculo de música e poesia, promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, como mais uma atividade da vida cultural do município. Protógenes de Melo é o autor de uma das atrações turísticas de Restinga Seca, um monumento de três por quatro metros, em cimento e concreto, erguido por sua iniciativa. A obra em baixo relevo é uma releitura de um auto-retrato do artista publicado no livro O Andar do Tempo, editado por LPM Editores. Tem o formato de um porta-retrato, com duas colunas que pesam 200 quilos. Possui uma calçada de dois e meio por cinco metros e 52 centímetros de altura, onde os visitantes podem permanecer para apreciá-lo e bater fotos, com um jardim ao redor. O monumento pode ser visto tanto por quem circula na rodovia que liga Santa Maria a São Sepé como no sentido inverso. Para projetar a obra, Protógenes recorreu a um desenho em papel, valendo-se também de uma prancha, de dois metros e 40 por um metro e 60 centímetros, e de um rolo como se fosse de fazenda, mas de borracha, cortado em tirinhas de meio centímetro. Daí surgiu uma matriz, armada em concreto, pintada na cor cinza para ficar próxima à cor do cimento. Para Protógenes, a construção desse monumento é um resgate cultural da figura de Iberê Camargo, o mais famoso filho de Restinga Seca. Ele foi amigo pessoal do pintor e lembra que quando visitava o município Iberê procurava comparecer à estação férrea onde dava um badalo no sino. Também ia visitar uma bossoroca, o Buraco Fundo, paredões abertos pela natureza, de 200 por 500 metros, localizada a cinco quilômetros do Centro do município, um fenômeno estudado por geólogos da Universidade Federal de Santa Maria, e que também atrai visitantes. Iberê, acredita Melo, não chegou a brincar no local, porque saiu de Restinga Seca quando ainda tinha só seis anos. Gostava de caturritas e pássaros e tinha posições de vida bem claras. Quando o irmão de Jorge Amado, James, solicitou que Iberê ilustrasse o livro do escritor baiano, Capitães de Areia, o convite foi aceito, mas o trabalho não foi realizado. É que James, recorda Protógenes, queria submeter os desenhos do artista gaúcho ao seu crivo, o que não foi aceito por ele. Mais tarde, ele acabou ilustrando o livro de Jorge Amado, ABC de Castro Alves. Iberê era quieto, reservado, mas muito amigo dos seus amigos, sublinha Protógenes. A viúva do homenageado, dona Maria, com 93 anos, ainda bem lúcida, não esteve na cerimônia da inauguração do monumento, por não poder ficar muito tempo em pé, já que o ato de inauguração aconteceu ao ar livre, mas prometeu realizar uma visita ao município. Restinga Seca sobrevive graças às culturas de arroz, soja, fumo e à indústria. A pecuária bovina também é reforço econômico. A estação ferroviária, com 100 vagões, e a caixa dágua, toda em ferro, com 15 metros, são outras de suas atrações turísticas. Atento ao valor do turismo, Restinga Seca trouxe em maio o primeiro grupo de turistas, vindos de Porto Alegre, inclusive europeus, para que participassem de uma festa e um jantar com música, danças afrodescendentes, poesia e música.
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