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Marisco de água doce ameaçado de extinção é reencontrado no Parque Estadual Delta do Jacuí

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Após onze anos, a Fundação Zoobotânica (FZB) do Rio Grande do Sul reencontrou, em área preservada do Parque Estadual Delta do Jacuí, uma espécie de marisco de água doce ameaçada, conhecida cientificamente como Leila blainvilliana. A constatação ocorreu
Marisco de água doce ameaçado de extinção é reencontrado no Parque Estadual Delta do Jacuí

Após onze anos, a Fundação Zoobotânica (FZB) do Rio Grande do Sul reencontrou, em área preservada do Parque Estadual Delta do Jacuí, uma espécie de marisco de água doce ameaçada, conhecida cientificamente como Leila blainvilliana. A constatação ocorreu em dezembro, durante os estudos da FZB para a elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual.

O molusco está em perigo de extinção, segundo as listas de espécies ameaçadas regional e nacional. Por possuir hábito filtrador e por viver enterrado no sedimento é um bioindicador da qualidade das águas no ambiente onde vive.

O Plano de Manejo definirá o que pode ser feito em cada região do Parque, como a criação de áreas para turismo, para pesquisa, para educação ambiental e até mesmo áreas que não poderão sofrer nenhuma intervenção (intangíveis). Atualmente a regulação é feita por meio das legislações federal e estadual.

As principais ameaças
A constatação surpreendeu os pesquisadores, pois a espécie sobrevive ao mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), introduzido na região via casco de navios, em 1998. O invasor fixa-se na superfície da concha, matando os exemplares de Leila por sufocamento. O mexilhão-dourado é considerada a principal ameaça à sobrevivência deste marisco.

A pesquisadora do Museu de Ciências Naturais da FZB, Ingrid Heydrich, explica que importantes ameaças adicionais ao marisco de água doce são a destruição da vegetação marginal e das matas ciliares. Isso pode ocorrer com a extração de areia e a construção de marinas que levam à dragagem para navegação, causando assoreamento. Outros fatores são a poluição da água e a construção de barragens. O desaparecimento de espécies de peixes nativos também contribui para o sumiço do bivalve.

O Parque abriga outras espécies ameaçadas, como exemplares de peixes anuais, esponjas de água doce, além de algumas aves e mamíferos. Segundo Ingrid, para garantir a sobrevivência dessas espécies é necessário investir na despoluição (tratamento de esgotos, por exemplo), controle do mexilhão-dourado e rigor no licenciamento de empreendimentos junto às margens do Delta.

Onde vive
O marisco de água doce vive enterrado no fundo arenoso, deixando apenas uma pequena porção da concha fora da areia para respirar e filtrar o alimento. No Rio Grande do Sul, Leila blainvilliana ocorre, principalmente, no lago Guaíba (maior número de registros), no curso inferior do rio Jacuí e em afluentes do curso médio do rio Uruguai. Apesar da ampla distribuição geográfica, as populações deste marisco de água doce são muito pequenas e esparsas. Além disso, o número de exemplares tem decrescido rapidamente em função do mexilhão-dourado.

Um berço de vida
José Augusto Nunes, gestor do Parque, destaca a biodiversidade presente no Delta e cita os Sacos da Alemoa, do Quilombo, da Pólvora e Santa Cruz como berços de vida. As águas calmas dos Sacos contribuem para a reprodução de peixes, aves e outras espécies, como os moluscos, disse. Inclusive, protegem de enchentes e regulam a liberação das águas em períodos de seca pela presença de áreas de banhado. A constatação de espécies ameaçadas é mais uma evidência de que o Parque deve ser preservado, disse Augusto.

O Parque Delta do Jacuí
O Parque Estadual Delta do Jacuí está distribuído em cinco municípios (Porto Alegre, Canoas, Nova Santa Rita, Triunfo e Eldorado do Sul). Suas porções de terras emersas, rios (Jacuí, Caí e do Sinos), canais, cerca de 30 ilhas e Sacos ocupam a superfície de aproximadamente 210km². O Delta também é fonte de abastecimento de água para a população, mantém a atividade pesqueira, navegação e o transporte naval de produtos e matérias primas etc.

Texto e foto: Daniel Hammes
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305

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