Palestras abordam preservação e variedade de sementes
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A utilização de sementes na alimentação e na agricultura, de variedades transgênicas a crioulas, foi o tema principal das palestras desta quarta-feira (19), no Centro de Eventos da PUCRS, onde acontece até sexta-feira (21), o I Congresso Brasileiro de Agroecologia, IV Seminário sobre Agroecologia e V Seminário Estadual sobre Agroecologia. O evento é realizado pelo Governo do Estado, por intermédio da Emater/RS, e da Embrapa. O professor da Universidade Federal do Pará, Iran Veiga, destacou a importância da diversidade ecológica na Amazônia e certas formas de agricultura aplicadas pelos produtores, onde há a dependência do fogo. Embora a matriz da agricultura moderna não tenha se instalado ainda na Amazônia, ela domina o pensamento daqueles que pensam a agricultura, afirmou Veiga. Segundo o palestrante, a agricultura tem que voltar a ser pensada pelos próprios agricultores. Eles é que tem que discutir que tipo de agricultura querem, completou. A professora da PUC do Rio de Janeiro, Ana Branco, falou sobre a carga de informação que cada semente carrega consigo. Segundo ela, as sementes possuem um biochip, onde essas informações seriam armazenadas, como um computador. Com o cozimento, as sementes perderiam essas informações e o alimento estaria sem vida. Assim como o chip do computador, as sementes possuem silício dentro de uma molécula de água, com o cozimento ocorre a quebra dessas moléculas que guardam o silício, e a memória biológica das sementes se perde, revelou Ana. Para ela, a melhor forma de consumir as sementes é na fase de germinação. Depois de germinadas, as sementes têm seu valor nutritivo ampliado em 20 mil vezes. Os grãos germinados permitem que se coma menos quantidade e muito mais qualidade, pois o alimento está vivo. Assim, a vida continua viva dentro de você, salientou a professora. A soberania alimentar é o direito de cada povo de controlar os seus alimentos, ressaltou a palestrante e professora equatoriana da Universidad Politécnica Salesiano, Elisabeth Bravo. De acordo com ela, essa soberania está cada vez mais ameaçada pelos países ricos, principalmente, pelas constantes ajudas alimentares enviadas aos países pobres e pelos transgênicos. Os Estados Unidos mandam para os mais pobres, através de ajuda alimentar, toda a produção de transgênicos que não é aproveitada para a alimentação dos animais no país. Recentemente, foram enviadas para o Iraque, toneladas de milho, soja e trigo transgênicos. O trigo ainda está em estudo e não está liberado para o consumo humano, revelou a professora. Para ela, a ajuda alimentar é uma forma de escoar a produção agrícola excedente, promover a política do país no exterior e limitar a concorrência. Já, para os países que recebem a ajuda, segundo Elisabeth, isso mata qualquer forma de iniciativa local, causa dependência da importação, muda padrões alimentares, ocorre perda de empregos e os agricultores locais deixam de produzir, ocasionando uma acomodação, declarou Elizabeth Bravo. Corroborando a crítica à dependência alimentar feita pela professora equatoriana, o extensionista da Emater/RS, Giovane Vielmo, e o agricultor Leonel Kluge falaram sobre a experiência de resgate e preservação das sementes crioulas de milho no município de Ibarama (RS). Quando utilizamos a semente crioula, buscamos muito mais que produção. Queremos garantir a soberania alimentar e a sustentabilidade da nossa população e a biodiversidade do nosso meio ambiente, disse Vielmo. Em Ibarama, a semente crioula é conservada por 28 agricultores conhecidos como guardiões, que têm a função de produzir, armazenar e distribuir aos demais agricultores do município. As sementes crioulas são cultivadas em mais de 40% das propriedades do município. Leonel Kluge é um dos guardiões. Em uma área de 40 hectares, o agricultor utiliza, há mais de 40 anos, sementes crioulas de milho.