Uma pequena propriedade rural, localizada no assentamento Vista Alegre, em Dom Pedrito, começou a estruturar, nessa segunda-feira (3), uma unidade de saneamento básico, denominada Bacia de Evapotranspiração (BET). O projeto, desenvolvido por uma aluna do curso de Gestão Ambiental da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), em parceria com a Emater/RS-Ascar, é inédito no município e se diferencia por utilizar uma cobertura com plantas responsáveis por fazer a sucção dos excrementos levados pelo encanamento sanitário até a BET.

De acordo com a idealizadora do projeto, a acadêmica Graziane Moraes Soares, serão plantadas sobre a BET mudas de ave do pássaro, orelha de elefante, tália-púrpura e margarida do banhado - plantas que se adaptam bem ao clima da região. As plantas fazem a parte mais importante, que é a evapotranspiração, explica. Ou seja, os resíduos produzidos são absorvidos pela raiz, por meio de um processo que garante a vida da planta na superfície. Uma das etapas mais difíceis foi achar uma planta que se alimentasse de bastante água e que se adaptasse bem ao nosso frio, completa Graziane.

Segundo a acadêmica, o projeto tem foco nas questões ambientais e de saúde. O lançamento indiscriminado de água negra (esgoto) no solo ou em rios causa enormes prejuízos para o meio ambiente, particularmente em se tratando do meio rural, onde é produzida grande parte dos alimentos que consumimos. Neste trabalho busca-se uma solução para o tratamento final da água negra (aquela que sai da descarga de sanitários convencionais) sem contaminar o solo e/ou a água, destaca.

A ideia para realizar o projeto surgiu quando Graziane assistiu a um programa de televisão que abordava o assunto. A estudante se interessou pela pauta e pesquisou o tema na internet, onde descobriu que este tipo de trabalho era desenvolvido de forma mais ampla no Estado de Santa Catarina, com mudas de bananeira. Como este vegetal não resistiria ao frio da região, Graziane adaptou o trabalho à realidade local.

A confecção da BET é simples, mas o processo ainda é pouco utilizado no Rio Grande do Sul. Primeiramente, abre-se um buraco com aproximadamente 1m de profundidade, 2m de largura e 4m de comprimento - estas medidas podem variar de acordo com o número de pessoas residentes na casa. Depois, é preciso impermeabilizar a escavação com cimento, para que os resíduos não tenham contato com o solo.

Posteriormente, são colocados materiais como pedras, cacos de tijolos e telhas. Antes da cobertura vegetal, a bacia ainda recebe o complemento de brita, areia e terra. A tubulação subterrânea é feita com canos e pneus velhos, que ficam dentro da BET e funcionam como uma câmara anaeróbica. Ao redor, a estrutura é cercada com tela.

De acordo com Graziane, a BET realiza o tratamento apenas dos dejetos sanitários. O que pode contaminar o solo são os resíduos do vaso sanitário. Por isso é necessário tratá-los. A água que vem da pia, por exemplo, não é tratada na BET, até para que não aconteça um superdimensionamento da bacia, destaca.

A produtora rural Cleni Schuster, que trabalha com a produção de queijos, comemora a transformação do antigo esgoto a céu aberto em reservatório tratado e ambientalmente correto. Isso vai ser muito bom para a nossa saúde e também para o meio ambiente. Antes aqui tinha muita mosca, o cheiro era forte e era perigoso para os animais, destacou.

Segundo a extensionista de bem-estar social da Emater/RS-Ascar, Enoé Amaral, o saneamento básico reflete diretamente na qualidade de vida da família beneficiada com o projeto. Sem dúvidas este trabalho irá ajudar na prevenção de doenças, no impedimento da proliferação de insetos e, também, no embelezamento da área. Sabe-se que viver por muitos anos em locais sem saneamento pode reduzir a expectativa de vida das pessoas. Projetos como este podem modificar isto, salientou.

O projeto - intitulado BET: alternativa para o tratamento de esgoto na zona rural - foi custeado por empresários de Dom Pedrito.


Texto: Felipe Rosa
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305