Nos Estados Unidos, Gabriel Souza conhece modelo de gestão da água que é referência mundial
Comitiva gaúcha visitou o distrito de recursos hídricos no Nebraska que é exemplo no uso sustentável da irrigação
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O segundo dia da missão técnica do Rio Grande do Sul ao Estado do Nebraska, nos Estados Unidos, foi dedicado ao tema da gestão e regulação das águas subterrâneas, um dos pilares da política de irrigação norte-americana. Liderada pelo vice-governador Gabriel Souza, a comitiva gaúcha conheceu na terça-feira (21/10) o trabalho desenvolvido pelo Upper Big Blue Natural Resources District (NRD), um dos 23 distritos de gestão hídrica do Nebraska, referência em governança e uso sustentável da água subterrânea, localizado na cidade de York, próximo a Lincoln.
O território do Upper Big Blue abrange 1,8 milhão de acres (cerca de 728 mil hectares), dos quais 1,2 milhão são irrigados, com mais de 10 mil pivôs centrais em operação. A governança local é exercida por um conselho de 17 diretores eleitos e uma equipe técnica de 25 profissionais, que monitoram anualmente os níveis do lençol freático e classificam as áreas conforme o risco de rebaixamento, determinando o espaçamento entre poços e, quando necessário, impondo limites de irrigação.
“Aqui no Nebraska, o que vemos é um modelo consolidado de gestão da água subterrânea. O distrito do Upper Big Blue, que leva o nome do rio que atravessa essa região, monitora de forma contínua a quantidade e a qualidade da água disponível, estabelecendo regras e protocolos que garantem o uso sustentável desse recurso essencial para a irrigação e para outras atividades. É uma experiência muito rica, que ajuda a ampliar o nosso conhecimento sobre práticas que podem inspirar o Rio Grande do Sul”, destacou Gabriel Souza.

Monitoramento da água
O Upper Big Blue adota um sistema rigoroso de controle e transparência no uso da água, com mais de 12 mil medidores instalados e obrigatoriedade de relatórios anuais sobre o volume bombeado. Além da quantidade, o distrito monitora constantemente a qualidade da água, especialmente quanto à contaminação por nitratos, orientando produtores sobre manejo do solo e uso racional de fertilizantes. Financiado por recursos estaduais e federais, o modelo integra produtores, técnicos e universidades em ações de conservação, pesquisa e educação ambiental, sendo um exemplo de gestão sustentável e colaborativa voltada à segurança hídrica de longo prazo.
Christopher Neale, professor da Universidade do Nebraska e referência em pesquisas sobre irrigação e uso eficiente da água, fala sobre como os aprendizados que a comitiva gaúcha vem adquirindo durante a missão podem ser aplicados no Rio Grande do Sul. “O grupo tem visto como o Nebraska administra água superficial e subterrânea. No Brasil, os Estados também são responsáveis por água subterrânea. Então, a lição é encontrar uma maneira para que os polos de irrigação, onde vai se desenvolver irrigação e onde já existe irrigação, terem certa capacidade de administrar a água localmente, sempre com observação do Estado. Não dá para exportar o modelo NRD, mas dá para adaptá-lo à realidade brasileira dentro das bacias hidrográficas e dos comitês de bacia. Existe esse potencial e a indústria de irrigação no Brasil tem interesse que isso vá para frente”, destaca.
Visita à propriedade rural
Ainda na terça-feira, a comitiva foi conferir in loco como funcionam os sistemas de manejo de irrigação e visitou uma propriedade rural administrada pelo casal Jerry e Sue Stahr. A fazenda familiar tem 560 hectares, divididos igualmente entre o cultivo de milho e soja, e é um exemplo da aplicação prática das tecnologias e métodos de irrigação estudados ao longo da missão. A produtividade média de milho neste ano foi de 15 toneladas por hectare, mesmo com uma perda estimada de 10% causada por uma doença que afetou parte da lavoura.
O índice impressiona quando comparado à média do Rio Grande do Sul, de 7,2 toneladas por hectare. No Estado, de acordo com dados da Emater, pouco mais de 12% das lavouras de milho contam com irrigação, percentual que vem crescendo ano a ano, enquanto no Nebraska a irrigação alcança mais de 90% da área plantada.

Exemplos para os produtores gaúchos
Durante a visita, foram discutidos temas como o espaçamento entre plantas, o controle de pragas e as estratégias de manejo sustentável para reduzir impactos produtivos. O grupo também conheceu o parque de máquinas e equipamentos de plantio de precisão, que permitem otimizar o uso de sementes, fertilizantes e defensivos, garantindo maior uniformidade e eficiência na semeadura.
"A visita reforça a importância de investir em tecnologia e planejamento para ampliar a eficiência da irrigação no Rio Grande do Sul. O que vimos aqui é um exemplo de como o uso racional da água e o manejo de precisão podem elevar significativamente a produtividade e a sustentabilidade no campo. A presença da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) nesta missão tem justamente o propósito de conhecer tecnologias modernas e inovadoras em irrigação e gestão hídrica, que possam subsidiar a construção de um programa voltado à agricultura familiar e ao fortalecimento das políticas públicas de irrigação sustentável no Estado”, destacou o secretário Vilson Covatti.
Na quarta-feira (22/10), a comitiva visitará o Centro de Educação de Extensão do Leste de Nebraska (Enreec), o Campo de Sequestro de Carbono do Centro CSP2, o Centro de Inovação em Carne Bovina, além de centros especializados em recursos naturais e mitigação de seca.
Texto: Juliane Pimentel/Ascom GVG
Edição: Secom