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Pacientes do Hospital São Pedro aliam teatro e música para reinserção na sociedade

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19.04.13: Projeto Saúde Mental no Hospital Psiquiátrico São Pedro.
HPSP na sociedade - Foto: Gustavo Gargioni/Especial Palácio Piratini

O projeto de saúde mental do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), em Porto Alegre, promovido pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), utiliza a arte como forma de recolocar os pacientes da instituição na sociedade. Desde 27 de fevereiro, atores da companhia de teatro italiana Accademia della Follia, da Região de Friuli Venezia Giulia, realizam oficinas de treinamento teatral com internos e funcionários do hospital. Pioneiro no País, o projeto A Arte da Loucura é uma parceria da SES com o Departamento de Ações de Saúde (DAS) e a Conferência Permanente para a Saúde Mental no Mundo (Copersamm), e recebe investimentos de R$ 50 mil.

O objetivo da companhia italiana é encerrar as atividades com a peça Azul como a liberdade, composta por todos os participantes das oficinas, em apresentação que ocorrerá no dia 18 de maio, no auditório do hospital. Pelo menos 20 pacientes integram as atividades teatrais, que são gratuitas e realizadas diariamente pela manhã.

Experiente no quesito arte e loucura, a Accademia della Follia, formada por 12 integrantes - entre eles, dois atores ex-internos de uma instituição psiquiátrica na Itália -, está pela terceira vez no Brasil, onde apresentou a peça Extravagância em 2010 e 2011. O grupo, fundado pelo diretor e ator Cláudio Misculin, nasceu há 30 anos no antigo hospital psiquiátrico de Trieste, no mesmo período em que o psiquiatra Franco Basaglia, criador da lei antimanicomial, abriu as portas da instituição para o mundo.

Os integrantes da companhia acreditam que a loucura pode revelar um potencial artístico e possibilitar que os deficientes mentais se expressem frente ao preconceito da sociedade. Corpo, voz e movimento são um milagre porque a construção de um ser humano está no corpo, especialmente, entre pessoas com dificuldade psicológica. O corpo deles está pesado e apático. No entanto, o teatro possibilita que um canal de comunicação se abra dentro do indivíduo, independente do nível psiquiátrico, explica a atriz e professora italiana Ana Dalbello.

A instrutora afirma que a receptividade dos internos é positiva. Muitos têm dificuldades de se manifestar nos primeiros encontros, mas logo se soltam à medida que participam dos trabalhos. No início, a pessoa tem medo porque é uma coisa nova. Depois, demonstramos que a gente se interessa. Fazemos ela brincar, se divertir e descobrir a importância de se expressar. Quando se cria essa familiaridade, o paciente se abre, avalia.

Mais conhecida como Sol, Solange Gonçalves Luciano, 44 anos, garante que não falta um dia sequer às oficinas de teatro. Ex-moradora do hospital, onde esteve internada por sete anos, Solange vê nas atividades culturais uma maneira de evoluir como ser humano. Teatro é sonhar. É como se fosse viver duas vezes. Além de trabalhar o corpo, a gente brinca muito com os professores, afirma.

Ela também participa das oficinas de criatividade e escrita. Sem falsa modéstia, Sol é confiante ao avaliar-se como atriz. Reconheci que tinha um pouco de talento, mas não sabia que teria tanta participação no espetáculo. Segundo ela, os professores utilizarão uma música com letra de sua autoria durante a peça.

Solange ainda não trabalha e atualmente vive sozinha em uma pequena casa na Lomba do Pinheiro. Seu sustento são os R$ 677 que recebe do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC-LOAS). Apesar das dificuldades em se reinserir na comunidade, mesmo com projetos de inclusão, ela destaca a importância das iniciativas culturais para a saúde mental de quem precisa. O bom desses projetos é que podemos mostrar como nos sentimos e expressarmos o que pensamos sobre a forma equivocada que a sociedade nos enxerga.

Serviço
Apresentações do projeto A Arte da Loucura
9 de maio - Mental Tchê, em São Lourenço do Sul
18 de maio - Gigantinho (auditório) do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre

Período das oficinas
27 de fevereiro a 17 de maio

Texto: Assessoria Secom
Foto: Gustavo Gargioni/Especial Palácio Piratini
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305

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