Palestrante do III Seminário Internacional destaca papel do PIM para uma sociedade menos violenta e mais humanizada
Publicação:
Neurociência, Desenvolvimento Infantil e Culturas Familiares foi o tema da primeira mesa redonda do III Seminário Internacional da Primeira Infância que iniciou na manhã desta quinta-feira (24), no Salão de Atos da PUC/RS, em Porto Alegre. O primeiro palestrante da tarde, o psiquiatra infantil gaúcho Salvador Célia, disse que os especialistas estão vendo na neurociência a possibilidade de reconhecer e entender que as coisas estão cada vez mais integradas no ser humano. Os abraços, afetos, que vêm antes do conhecimento cognitivo e da linguagem, estão sendo mais estudados e integrados. A segurança afetiva, segundo Salvador Célia, está diretamente ligada à forma de trabalhar as culturas familiares e reforçar as suas competências. Na avaliação do médico, o mundo precisa ser humanizado e a sociedade está descobrindo novos recursos para integrar o bebê. Um exemplo de atitude política é o Programa Primeira Infância Melhor, que na visão de Salvador está colaborando para tornar a sociedade mais empática, menos violenta e mais humanizada. Pré-natal, parto mais humanizado, aleitamento materno e visitas domiciliares fazem parte da receita para formar cidadãos mais empáticos, finalizou Salvador Célia. Relação familiar e desenvolvimento neurológico dos bebês O neurologista Jaderson Costa da Costa abordou a Neuroplasticidade na Primeira Infância e a Capacidade de Adaptação do Cérebro. Para ilustrar a palestra, o médico relatou o caso clínico de uma menina de 3 anos que teve a metade do cérebro retirada e hoje leva uma vida normal, inclusive falando fluentemente português e inglês. Repetição de estímulos de boa qualidade são fatores determinantes para o fortalecimento do cérebro, que tem o seu maior potencial de regeneração antes dos 5 anos. A relação familiar e o neurodesenvolvimento do bebê, incluindo as mães-cangurus, foram abordados pelo colombiano Jairo Alberto Zuluaga Gómez. Ele contou que há duas situações históricas vinculadas à saúde materno-infantil, no século XX: uma é a sobrevivência do recém nascido de baixo peso, contornada pelo desenvolvimento tecnológico; outra, o seu abandono. Antes do século XX, um prematuro de sete meses não sobrevivia. Isso foi superado pela tecnologia com o advento das incubadoras, ventiladores e UTIs neonatais. Mas aqui entra um outro fator, o abandono do bebê nessas incubadoras, por parte das mães. Isso ocorre porque foi interrompido, ou não houve, o desenvolvimento do vínculo mãe-bebê. A mãe que abandona o bebê numa clínica interrompe o processo natural, que é a ligação entre ambos e seu desenvolvimento. O programa chamado Mãe-Canguru, que basicamente é uma resposta não apenas ao vínculo rompido, mas também à deficiência na prestação dos serviços, foi apresentado em sua palestra. Em muitos lugares, não há incubadoras nem ventiladores suficientes e os bebês de baixo peso morrem. Na Colômbia, dois médicos propuseram revincular na mais tenra idade o bebê e sua mãe, tendo como um dos pilares o contato da criança com o peito da mãe. Com isso, pôde ser contornado o sério problema que é salvar o bebê, mantendo-o isolado numa incubadora para protegê-lo de riscos, mas comprometendo o seu desenvolvimento afetivo, neurológico e emocional. Os palestrantes Zuluaga Gómez é cirurgião e especialista em Educação Médica. Pós-graduado em Neurologia e Neurociência. Autor de várias publicações na área de Neurociência e Prêmio Docente de Destaque da Universidade Nacional da Colômbia. Salvador Célia é Pedopsiquiatra pós-graduado pela Universidade da Califórnia e professor da Faculdade de Medicina da ULBRA de Canoas. Laureado pela World Association for Infant Mental Health pela contribuição ao avanço de políticas públicas para a saúde mental dos bebês e suas famílias. Jaderson Costa da Costa é Neurologista e Mestre Neuroanatomia e Fisiologia e Doutor em Ciências. Professor de Neurologia da Faculdade de Medicina e diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. Tem o título de Research Fellowship em Neurofisiologia Clínica pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos.