SES adverte: Leptospirose exige cuidado constante da população
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A leptospirose é uma doença infecciosa aguda que ocorre em todo o país. Apesar de característica de áreas com falta de condições satisfatórias de saneamento e higiene, nenhuma região está livre da enfermidade. Isso porque a infecção geralmente se dá pelo contato direto ou indireto com a urina do rato, roedor onipresente em grandes e pequenas cidades. “Onde tem gente, tem rato”, afirma a médica veterinária Dóris Bercht Brack, da Divisão de Vigilância Ambiental do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS). De janeiro a março de 2006, foram confirmados 137 casos de leptospirose no Estado, com 10 mortes. Como a doença é endêmica e oferece risco de vida, o CEVS desenvolve o Programa de Controle da Leptospirose, que capacita os órgãos competentes de municípios de todo Rio Grande do Sul a adotar medidas de prevenção. Os ratos urbanos e silvestres contaminados com a Leptospira, bactéria causadora da doença, a eliminam na urina a vida inteira. Porém, animais domésticos, como cães, bois e cavalos, também podem alojar o microorganismo e, ao contrário dos roedores, até desenvolver a patologia. O homem contrai a leptospirose através das mucosas (olhos, nariz, boca) e pequenas lesões na pele. Contudo, mesmo quando não há ferimentos pode haver a infecção, pois o contato prolongado com a água faz com que a pele dilate seus poros e facilite a entrada da bactéria no corpo. Mais raramente, pode ocorrer infecção pela ingestão de água e alimentos contaminados. Segundo Dóris, a incidência da leptospirose é comum no meio rural, especialmente em lavouras de arroz, abundantes em canais de irrigação, e durante a limpeza de fossas domiciliares. Enchentes contribuem muito para que ocorram epidemias, pois o contato com água e lama contaminada aumenta exponencialmente o risco de contrair a enfermidade. O quadro pode ser agravado em grandes aglomerados urbanos de baixa renda, à beira de córregos e zonas alagadiças, com sub-habitações, que facilitam a proliferação de roedores e seu contato com humanos. Os sintomas da leptospirose aparecem de dois a 30 dias após o contágio e podem ser confundidos com uma gripe: febre alta, dor de cabeça, mal-estar e dores musculares. Outros efeitos comuns são vômito, diarréia, icterícia (peles e olhos amarelados) e alteração no volume e coloração da urina. Em casos mais graves podem ocorrer hemorragias, insuficiência renal, problemas hepáticos ou cardíacos. Se não for tratada, a doença pode levar à morte. A confirmação da doença é realizada através de exame laboratorial, efetuado pelo Laboratório Central do Estado (Lacen). No entanto, se o paciente possui os sintomas e foi exposto recentemente a situações de risco, o tratamento à base de antibióticos começa a ser ministrado de imediato. Caso contrário, a recuperação fica prejudicada, pois após o sétimo dia do início da doença os medicamentos já não exercem o mesmo efeito sobre a bactéria. “Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, mais eficiente ele será”, assegura a médica veterinária. O número de casos de leptospirose caiu bastante nos últimos anos no Estado. A incidência regrediu de 602 casos confirmados, em 2003, para 165 em 2004 e 326 em 2005. No ano passado, as maiores incidências (casos confirmados por 100.000 habitantes) ocorreram na 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), com sede em Santa Cruz do Sul, e 4ª CRS, sediada em Santa Maria. De acordo com Dóris, a seca registrada nesses períodos está relacionada à queda no total de casos, uma vez que a água é o principal meio de transmissão. A ações da SES para combater a doença são voltadas ao controle de seu principal reservatório, os ratos. Nesse sentido, a equipe do CEVS apóia os municípios, através da capacitação de técnicos e orientação de projetos. As medidas adotadas são de prevenção, visando a criação de um ambiente limpo que iniba a presença de ratos, e de desratização, com a aplicação de raticidas nas ruas e residências, dependendo do caso. “Nunca será possível eliminar o roedor – que vive nos esgotos, se reproduzindo com rapidez –, somente reduzir sua população e deixá-lo sob controle. Assim, diminui-se o risco de surtos da doença”, explica Dóris. A SES avalia programas específicos apresentados pelas prefeituras e realiza palestras por todo Estado, complementadas por materiais explicativos de alerta à população. O CEVS está também começando um projeto piloto de educação ambiental em conjunto com a Secretaria Estadual da Educação que, entre outros temas, informa a comunidade escolar sobre o manejo de roedores. A médica veterinária do CEVS aponta algumas medidas de higiene para deixar o ambiente de casa inóspito para os ratos. Em primeiro lugar, acondicionar adequadamente o lixo em latas fechadas ou sacos plásticos elevados do chão e não deixar comida para animais fora de casa. Manter a vegetação bem aparada também é importante, em especial perto dos muros. No entanto, é preciso que todos façam a sua parte. “Não adianta alguém manter seu pátio limpo se o vizinho não o faz, porque os ratos vão continuar circulando na região da mesma maneira”, alerta Dóris. Para evitar que os roedores entrem nas residências, algumas sugestões são manter os ralos fechados com tampas pesadas ou fixas, colocar telas nas janelas e vedar a parte inferior das portas. Quando for necessário trabalhar ou entrar em contato com a água, é muito importante proteger bem pés e mãos, usando botas e luvas, em especial quando houver lesões nas extremidades. Lavar bem os alimentos antes de consumi-los sempre é essencial. E como a leptospirose é transmitida também por animais domésticos e de produção (bovinos, eqüinos, caprinos), a orientação é mantê-los vacinados para não desenvolver a doença.