Tarso Genro busca na Coreia do Sul exemplos para qualificar educação no Estado
Publicação:
Um dos objetivos da comitiva do Governo gaúcho na Coreia do Sul é buscar experiências na área educacional. Graças ao forte investimento em educação, atualmente a Coreia do Sul é líder em pesquisa e tecnologia. Além da alta valorização dos profissionais do ensino, o país destaca-se pela organização nas escolas. Na grande parte das instituições, as turmas não passam de 30 alunos, que em casos específicos, como em aulas de inglês, por exemplo, são divididas em cinco turmas de seis alunos.
Ao lado do secretário de Educação, José Clóvis de Azevedo, o governador visitou uma escola que serve de modelo para todas as outras. Antes disso, a comitiva participou de uma reunião com o vice-ministro da Educação, Dong - Geun Seol. O representante do governo sul-coreano está entre os maiores gestores na área educacional em seu país e foi um dos responsáveis pelo grande avanço obtido na área nos últimos tempos. Em sua apresentação, Seol destacou que a educação local visa não só atender as necessidades das empresas, mas também privilegiar a formação de pessoas criativas e globais.
Outro destaque no sistema educacional coreano é a universalização da educação, através da utilização de aulas pela internet e de um canal exclusivo de ensino na TV aberta, atendendo os alunos das regiões mais afastadas ou de difícil acesso. Confira a entrevista que o governador Tarso Genro concedeu, após a reunião no Ministério da Educação da Coreia do Sul:
Como o senhor avalia a apresentação do sistema educacional coreano, feita pelo vice-ministro da Educação, Dong - Geun Seol?
Foi uma exposição muito útil para nós. A experiência coreana na área educacional é altamente positiva. Ela é baseada na valorização do magistério e dos funcionários de escola. Uma valorização, eu diria, extraordinária. Além disso, o Governo coloca dentro do sistema educacional tecnologias que permitem um aprendizado de alta qualidade. Na questão da avaliação, saem de uma visão quantitativa para uma visão mais qualitativa, que é a preparação da criança do jovem para um mundo cada vez mais complexo. Realmente, gostei muito da exposição e destaco dois pontos: primeiro, a experiência coreana é uma experiência vigorosa; segundo, é que as próprias experiências vigorosas aprendem com o tempo. As mudanças que eles fizeram no sistema educacional já apontam um caminho adequado para países como o Brasil, que preparam-se para decolar na área educacional de uma maneira mais sistêmica, em função das grandes transformações que ocorreram nos últimos dez anos em nosso país.
O vice-ministro falou sobre um sistema de avaliação dos professores para que isso ajudasse na própria formação profissional e na valorização do magistério. Qual a sua ideia sobre a avaliação do desempenho dos professores?
Nós temos no nosso programa de Governo e vamos implementar um sistema de avaliação e já declaramos publicamente. Esse sistema de avaliação não será um sistema internalizado. Não será uma avaliação do sistema sobre si mesmo. Terá, sim, a colaboração dos professores e dos servidores, mas também terá que ter a participação dos pais, da comunidade e a participação externa de instituições de ensino superior de alta qualidade, sejam públicas ou comunitárias. Uma avaliação deste tipo é que pode permitir uma evolução positiva no sistema educacional.
A profissão de professor é uma das mais procuradas na Coreia do Sul. O que fazer para se ter algo parecido no Brasil e no Rio Grande do Sul?
A Coreia do Sul quando começou a se reconstruir no pós-guerra jogou massivamente no sistema educacional recursos que eram praticamente infinitos para o orçamento coreano, e teve uma ajuda externa extraordinária para isso. Isso permitiu a valorização da carreira do professor como uma espécie de príncipe do serviço público. E é esta a noção que nós temos que ter no Brasil. É claro que é um processo demorado, não ocorre de uma hora pra outra. O professor precisa ser considerado realmente um funcionário privilegiado, não no ponto de vista corporativo, mas privilegiado no sentido de que ele é um funcionário público fundamental para a construção de um futuro adequado para os jovens e para as crianças e para que se tenha um sistema educacional de alta qualidade. O fato dos professores serem a primeira ou segunda carreira mais procurada é um exemplo extraordinário que nós temos que seguir em todo o nosso País. Para isso, nós precisamos de uma política do Governo Federal de maior financiamento do sistema educacional básico do País e, assim, podermos chegar a uma situação muito melhor.
O que nós vimos aqui da pra ser chamado de meritocracia?
Não, não dá pra se chamar de meritocracia. Pode se chamar de uma avaliação de mérito. Eu gosto sempre de distinguir meritocracia, que é espécie, do gênero, mérito. Mérito é um sistema geral de avaliação das qualidades profissionais das pessoas, dos grupos que trabalham coletivamente. Meritocracia é uma visão específica do mérito adequada às empresas privadas, o que é positivo para as empresas privadas. Nós temos um sistema de mérito no Rio Grande do Sul que tem que ser muito aperfeiçoado para que haja uma correspondência do mérito com a promoção do professor na carreira. E nós vamos chegar lá, já que este é um trabalho inicial que nós estamos fazendo. E a avaliação do professor e do sistema educacional nunca pode ser meramente quantitativa. Ela tem que ser qualitativa e quantitativa, daí será uma avaliação integral.
Texto: Guilherme Gomes
Edição: Redação Palácio Piratini