Um relato da viagem realizada pelos “Caminhos do Rio Grande”
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Baseado numa pesquisa histórica de estudiosos, os pesquisadores Bruno César Euphrasio de Mello, estudante de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e o arquiteto Manoel Vieira Gomes Júnior percorreram, de bicicleta, 1,3 km no Estado em busca da maior proximidade da antiga rota dos Tropeiros. Essa iniciativa faz parte do trabalho de Extensão da UFRGS designado “Caminhos do Rio Grande”, que está sendo apoiado pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). A saída ocorreu dia 12 de janeiro, noite, com retorno no dia 4 de fevereiro ao meio dia. A idéia de seguir essa rota surgiu da curiosidade dos jovens em conhecer o período colonial do Brasil e pela sedução de querer conferir na prática os relatos lidos em diversos livros. “Sair e andar para ver”, frase de Nana Vasconcelos, foi citada pelo estudante e tida como lema do percurso. O projeto foi coordenado pelo professor de arquitetura da UFRGS e assessor de projetos especiais da Sedac, Albano Volkmer. Com duração de 23 dias, o trajeto foi divido em três trechos (Missões Jesuíticas, Planalto Médio e Campos de Cima da Serra e Litoral), para facilitar a apreensão dos detalhes e peculiaridades de cada região. Nesses percursos, eles andaram por estradas de chão batido, onde dependeram da solidariedade dos moradores da região, e por estradas urbanizadas com toda a infraestrutura necessária. Entre as dificuldades citadas por Bruno estão a falta de acesso a internet; o sinal dos celulares que falharam em diversas localidades e os horários de funcionamento dos estabelecimentos em finais de semana, por exemplo. Em Cruz Alta, a Casa de Cultura Mario Quintana não abre nos sábados. Quanto aos apoios, os pesquisadores consideram que a receptividade das prefeituras visitadas foi fundamental para o sucesso do trajeto, além da colaboração constante do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que através dos CTGs locais, os acolheram. “Tivemos uma grata surpresa ao chegarmos nas Missões. E também nunca imaginei que o Rio Grande do Sul tivesse tanta plantação de soja”, lembra Bruno. Além das Missões, os viajantes ficaram surpresos com a estrutura do Rodeio Internacional de Vacaria, com a Universidade de Passo Fundo (UPF), que também tem alunos estudando o tropeirismo, e com o Seminário Nacional de Tropeiros (Senatro). Esse seminário agrega, bi- anualmente, gente de todo o Conesul desde estudiosos e estudantes até tropeiros, filhos e netos, para participar de debates sobre o tema. “Gaúcho não é um tipo único que podemos descrever. O gaúcho varia de acordo com a região e com os grupos étnicos que o formaram”, constatou o estudante, após sua passagem por diversas cidades do Sul. Carioca, ele ainda comenta que sob a sua percepção, o Sul tem uma peculiaridade marcante que é a riqueza da cultura dentro de um Estado só. “A região que percorremos tem um potencial de turismo de todos os tipos, desde ecológicos, gastronômicos, culturais, até arquitetônicos”, diz. Sobre uma imagem marcante do Estado, o pesquisador é taxativo, “no Sul, tudo é tão múltiplo que não tem como falar de uma única paisagem, seria empobrecer o Rio Grande. Mas, se formou fora do Estado um imaginário de que o povo daqui era frio e distante, porém a viagem foi o contraponto de tudo isso. E os CTGs procuram manter acessa a cultura e a tradição do passado, para que a população não esqueça suas raízes”, afirmou. Como sugestão os viajantes dos “Caminhos do Rio Grande” sugerem unificar as rotas já existentes, como a Rota dos Campos de Cima da Serra, a Rota da Terra, a Rota das Missões e agregar com o turismo do litoral gaúcho.